No Camping Minha Namorada Virou Marmita dos Meus Amigos

Capítulo 1


A primeira vez que você faz qualquer coisa na vida geralmente é uma merda. E, como eu era muito jovem quando aconteceu tudo que eu vou contar, eu ainda não tinha aprendido essa lição. Na mesma semana, concentrei diversas experiências inéditas. Viajar com os amigos e a namorada, passar o ano novo fora de casa, acampar… nada disso já tinha feito alguma vez na vida.

Bom, não é como se eu tivesse escolhido fazer as coisas desse jeito. Sempre achei acampar um perrengue desnecessário, mas meus amigos adoraram a ideia, dizendo que ia ser uma aventura. A verdade, claro, é que era o que cabia no nosso bolso, a única forma viável de passar o ano novo na praia sem falir.

Além disso, em nenhum momento eu convidei oficialmente a Ana pro rolê, até porque ela ia trabalhar na virada. Mas bastou eu mencionar que a gente ia acampar na Ilha Grande pra ela largar tudo. Pediu demissão no impulso, deixou todas as comissões do Natal pra trás, e decidiu que ia com a gente de qualquer jeito.

E foi assim que começou a pior viagem da minha vida.

A primeira coisa que ela disse quando chegamos já serviu como lembrete do motivo pelo qual eu não estava nem um pouco animado com a ideia de juntar a Ana e os meus amigos na mesma viagem:

— Nossa, vocês acharam essa barraca no lixo?

Leandro, sempre o mais desbocado do grupo, não perdeu tempo:

— Ah, princesa, na próxima viagem você compra uma pra gente, então.

Olhei pra Ana, esperando sua reação, porque eu sabia o quanto ela odiava ser chamada assim. Mas, pra minha surpresa, ela soltou uma risada alta, daquelas que sacudiam o corpo todo, e respondeu:

— Pô, Lê… se eu soubesse que vocês iam dormir nessa tenda de mendigo, tinha mandado um Pix.

Os dois se encararam com sorrisos de canto de boca, tentando não rir. Pelo menos naquele momento, estavam brincando. Tanto Leandro, quanto a Ana, podiam ser bem sem noção quando queriam, e ficavam constantemente nesse morde e assopra, até um dos dois passar do limite. Eu assistia a tudo, sabendo que aquilo era uma bomba prestes a explodir, e quando acontecesse, minha paz acabaria.

Depois de muito custo, conseguimos deixar o acampamento minimamente em pé. Foi quando o Bruno puxou uma garrafa de pinga da mochila, serviu na tampinha e ergueu com um ar cerimonioso.

— Agora sim — anunciou. — Todo mundo tem que virar. Só assim a viagem começa de verdade.

— Nossa, não tem nada mais fraquinho, não? — Ana perguntou, fazendo careta ao sentir o cheiro da pinga.

— Se não aguenta, não precisa beber, princesa — Leandro retrucou no ato, com aquele sorriso debochado colado no rosto.

Vi a expressão da Ana mudar na hora, uma leve irritação atravessando o rosto. Quando os dois estavam juntos, era sempre tenso. Não adiantava tentar intervir ou pedir pro Leandro pegar leve. Ser pentelho era tão natural pra ele que era quase uma marca registrada.

De certo modo, em outra realidade, eu e ele até poderíamos passar por irmãos: mesma idade, mesma um e setenta de altura, mesma pele parda. A diferença estava nos detalhes. O braço fechado de tatuagens Maori e os vinte ou trinta quilos de músculo que ele acumulava com academia e bomba. Aquele corpo exagerado era apenas o reflexo da personalidade expansiva que ele fazia questão de exibir.

Leandro precisava ser o centro de tudo, onde quer que estivesse. Entre os meus amigos, era o único que eu mantinha à distância calculada, doses controladas de Leandro, só o suficiente pra não enlouquecer.

Ana reclamava bastante, dizia que não suportava o jeito dele. Mas, honestamente, para alguém que alegava odiar ser provocada, ela participava bastante com aquele jogo.

Mesmo irritada, respondeu à provocação com um sorriso desafiante. Arrancou a garrafa da mão do Bruno, mostrou a língua pro Leandro e virou tudo direto na boca. O líquido desceu rasgando, e ela ainda fez pose depois, como se tivesse vencido alguma disputa invisível. E assim, tive mais uma experiência nova para a coleção. Nunca tinha visto Ana beber pinga na vida. 

Depois, a garrafa passou de mão em mão até todos virarmos. Leandro foi o último. Mal terminou o shot, já arrancou toda a roupa, ficando apenas com uma sunga amarela, e saiu correndo em direção ao mar berrando.

Fiquei assistindo àquela cena, absorto na minha própria cabeça. Só ele mesmo pra usar uma sunga que mais parecia uma tanga, ainda por cima de uma cor tão gritante. Era quase como se gritasse: “Olhem pra mim!”. Leandro precisava ser o centro das atenções o tempo inteiro, e pela insistência, conseguia.
Olhei para Ana, tentando, com o olhar, dizer algo como “que coisa patética”. Mas ela não olhou de volta. Ficou ali, hipnotizada, observando Leandro correr até o mar com aquela sunga ridícula. Passou bons segundos assim, sem piscar, como se o resto do mundo tivesse deixado de existir.

Confesso que senti uma pontada de ciúmes. Mas não sabia ao certo se ela o observava como quem assiste a um palhaço no circo, ou como quem deseja algo que não deveria.

Graças a bebida, Kike e Bruno também se animaram e foram para o mar. Enquanto pegava o biquíni na mala, Ana me perguntou:

— Vamos pro mar, bebê?

— Ah... achei que já tinha te contado — respondi, tentando disfarçar o embaraço. — Eu não sei nadar.

Sabia muito bem que era mentira. Aquela era a primeira vez que eu admitia isso pra ela. Sempre tive vergonha, e fazia de tudo pra esconder essa limitação. Mas naquela viagem, cercado de mar por todos os lados, não ia ter jeito. Não dava mais pra fingir.

— Sério? — ela disse, surpresa, mas sem muita emoção. — Nossa... tudo bem. Eu vou com os meninos então.

Tinha muita coisa errada no meu relacionamento. Ana nunca foi exatamente compatível comigo, e os meus sogros me odiavam com gosto. Para eles, eu era só um erro de percurso, já que não queriam a princesinha dele com alguém que teria que preencher “ensino médio incompleto” em todos os formulários o resto da vida.

Eu vivia nesse limbo, em cima da moita, sem saber se terminava ou continuava. Mas bastou ver a Ana com aquele biquíni minúsculo, rosa-choque, pra todas as minhas dúvidas evaporarem.

Por mais complicada que fosse, ela era gostosa num nível que parecia irreal. Nem se eu desenhasse uma mulher perfeita conseguiria imaginar alguém como ela. Baixinha, os seios duros, em formato de pera, nem grandes, nem pequenos, a cinturinha fina de quem vive entre dietas e academia. E a bunda...

A bunda dela era uma obra-prima. A gente evitava transar de quatro porque, segundo ela, bastava eu olhar para aquele bundão que já era o suficiente pra eu gozar em segundos.

Pronto para usar a moita, puxei Ana para um abraço cheio de segundas intenções. Ela ficou dura, os braços caídos ao lado do corpo, esperando que eu a soltasse logo. Mas em vez disso, apertei ainda mais, deslizei a mão até a bunda dela e a puxei contra mim. Quando tentei beijá-la, ela virou o rosto e reclamou:

— Para com isso, Cleiton. Tem um monte de gente em volta.

Se desvencilhou e foi direto na direção dos meus amigos, como se estivesse fugindo de mim. 

Fiquei ali, na areia, de pau duro, apenas observando enquanto ela caminhava em direção ao mar. Mas eu não era o único. O barulho das risadas e conversas cessou subitamente. Meus amigos ficaram em silêncio, com os olhos fixos em Ana, como se estivessem vendo uma mulher pela primeira vez. A falta de decoro deles era só mais um dos motivos pelos quais eu não queria que minha namorada tivesse vindo nessa viagem.

Só voltaram a si quando o corpo dela foi engolido pelo mar, encerrando o espetáculo. Bruno e Kike retomaram a conversa como se nada tivesse acontecido. Já o Leandro...

Leandro parecia uma mariposa hipnotizada por uma lâmpada. Esperou Ana se distrair com uma onda, mergulhou em silêncio e reapareceu puxando seu pé por debaixo d’água. Assustada, minha namorada gritou e pulou para longe. Mas ao reconhecer quem era, se aproximou dele rindo, dando tapinhas leves nos ombros dele, como se estivesse tentando repreendê-lo.

Em seguida, pulou nas costas dele, tentando derrubá-lo na água, mas sem sucesso. A diferença absurda de força entre os dois tornava qualquer tentativa inútil.

Leandro entrou na brincadeira com gosto. Aplicou um golpe improvisado, virou o jogo e mergulhou Ana debaixo d’água com uma facilidade desconcertante. Prendeu-a entre os braços e ria da reação desesperada dela.

— Se não se comportar, vai pro fundo de novo — ameaçou.

Cada vez que ela protestava, ele dava outro caldo, mantendo-a submersa por alguns segundos. E embora Ana tentasse se soltar, fingindo irritação, dava pra ver no jeito como ela ria e voltava a atacar que estava gostando da brincadeira.

De longe, assistia aquilo com os braços cruzados e um sorriso amarelo colado no rosto, fingindo que achava tudo apenas uma diversão inocente.

Eles ficaram “brincando” no mar por horas, até o sol começar a sumir no horizonte. Voltamos para o camping para comer e dar início à bebedeira da noite. Enquanto Ana tomava banho, eu e os caras enrolamos um beck e nos sentamos em roda, deixando o tempo escorrer junto com a fumaça.

Bruno deu uma tragada longa, soltou o ar devagar, me olhou com aquele jeito de quem já sabia a resposta e perguntou:

— E o namoro, Cleitinho? Ainda na dúvida?

Suspirei fundo. Era difícil explicar exatamente o que passava dentro de mim.

— Ah... sei lá, mano. Tem dias bons, outros nem tanto. Algumas coisas são tão complicadas que eu fico pensando se vale mesmo a pena esse esforço todo, sabe?

Bruno só assentiu com a cabeça, calado, como sempre. Ele entendia mais pelo silêncio do que pelas palavras. Já o Leandro, como era de se esperar, preferia a brutalidade sincera da própria língua:

— Cara, você é muito anta. Quando é que você acha que vai pegar outra loirinha gostosa daquele jeito? Se fosse comigo, eu metia todo santo dia e ainda agradecia a Deus por ela não ter me largado pra ficar com algum velho milionário.

Tentei rir, fingindo que aquilo não me atingia, mas por dentro, a fala dele ecoava de um jeito incômodo. Talvez porque, no fundo, parte de mim achasse que ele tinha razão.

Depois do jantar, seguimos o itinerário natural: beber até não aguentar mais. Em algum momento da noite, Leandro resolveu dar uma volta entre os outros campings. Segundo ele mesmo, era “scouting das novinhas solteiras pra rapaziada”. Voltou um tempo depois com as más notícias:

— A gente se fodeu. Só tem linguiça e casal!

— Amanhã a gente pega um barco e acha outra praia. Não é possível que essa ilha inteira seja um cemitério de pica — respondeu Kike, tentando manter a moral da tropa.

— Cleitinho tá com sorte. Vai ser o único que não vai dormir sozinho hoje — completou Leandro, virando o restinho da bebida na garrafa.

Se ele soubesse…

Na hora de dormir, Ana e eu fomos para a barraca. Ela já começou reclamando que eu tinha enchido tudo de areia. Deitou de costas pra mim no colchão inflável, sem muita conversa. Ainda assim, tentando recuperar o clima, me aproximei, fiz conchinha, beijei devagar seu pescoço e deixei meu amiguinho roçar nela, testando a sorte.

— Cleiton, eu não sou dessas. Não vou transar numa barraca com todo mundo ouvindo — ela disse, com um tom firme.

Fiquei ali, encarando o teto da barraca. E percebi, com uma clareza incômoda, que assim como os outros, eu também não ia aproveitar nada daquela viagem.


Capítulo 2


Na manhã seguinte, Kike inventou que queria fazer uma trilha pelo costão até outra praia. Com uma ressaca pesada, tanto Leandro quanto Bruno recusaram.

Eu teria preferido ficar no camping. Afinal, já estávamos em uma praia; por que diabos precisamos caminhar para achar outra? Mas Ana queria porque queria fazer aquela trilha, menos pela aventura e mais pelo desejo de postar fotos bonitas no Instagram.

Por isso, mesmo meio zumbi de sono, comecei a subir um morro no meio do mato, ouvindo Kike e minha namorada conversando por quase uma hora sobre signos.

Confesso que o Kike era um mistério para mim. Loiro com dreads, corpo coberto por tatuagens, ele vivia de surf e maconha, sempre mantendo aquele estilo exageradamente good vibes. Só que eu o conhecia desde criança, e tinha certeza absoluta de que ele nem sempre foi assim. Parecia que, em algum ponto da adolescência, ele resolveu copiar a personalidade das crianças do Rocket Power e ficou preso no personagem para sempre.

Aquilo me irritava um pouco, principalmente a forma que ele mudava quando tinha uma mulher no rolê. Ele tinha o hábito desagradável de dar em cima de tudo que respirasse, exagerando na atenção e no charme que dava, inclusive nas namoradas dos seus amigos. 

Sério, que homem em sã consciência consegue falar por uma hora de signos?

E antes fosse só o papo merda. Durante toda a trilha, ele não largou da Ana. Segurava sua mão a cada trecho mais difícil, pegou uma flor e colocou na orelha dela, ficava fazendo palhaçada… Uma necessidade de se exibir o tempo todo tinha transformado o meu amigo em uma caricatura insuportável.

Finalmente, após uma caminhada que parecia interminável, chegamos à praia prometida. Para minha surpresa, o lugar era realmente bonito, e praticamente ninguém por perto. Ana não perdeu tempo. Tirou o shortinho, ajeitou o cabelo e pegou o celular para começar sua sessão de fotos para o Instagram.

— Kike, você me ajuda aqui rapidinho? — pediu, já entregando o celular para ele.

— Claro, pô! Com uma modelo dessas, vai ser fácil!

Começou então a sessão fotográfica. Primeiro, Ana ficou de costas, empinando levemente a bunda e olhando para trás, por cima do ombro, dando um sorrisinho provocador.

— Caralho, Ana! Desse jeito, você derruba a internet — disse Kike, clicando várias fotos seguidas.

Ela riu satisfeita, mexendo novamente no cabelo para fazer uma pose nova. Dessa vez, sentou-se na areia, deixando as pernas dobradas, de forma que destacassem ainda mais suas coxas e quadril.

— Assim tá bom? — perguntou, olhando diretamente para ele.

— Perfeita. Sério, você tem que fazer isso profissionalmente, fica gata demais — ele respondeu, e eu já puto com tanto entusiasmo.

— Ai, para com isso, Kike! — Ana rebateu, com falsa modéstia, claramente adorando cada elogio.

Enquanto continuavam, Ana decidiu entrar um pouco no mar, molhando as pernas e a barriga, deixando o biquíni molhado colado no corpo. Ela levantou os braços, arqueou as costas, destacando ainda mais seus seios e cintura fina.

— Meu Deus, Ana, essa aqui vai dar problema, hein? — Kike brincou, mostrando a tela do celular para ela.

Ana deu uma gargalhada alta, fingindo vergonha, mas satisfeita com a atenção que recebia. Os dois se aproximaram para ver as fotos juntos, os ombros se tocando de maneira natural demais para meu gosto.

Depois de quase uma hora naquele ritual interminável, finalmente decidiram que era hora de voltar. Levantei aliviado, pensando que ao menos o retorno seria mais rápido agora, já que não teria que ouvir mais sobre ascendentes em Áries ou qualquer bobagem do tipo.

Mas foi só pisar com os pés descalços nas pedras do costão que percebi o erro fatal que tinha cometido. O sol forte do meio-dia havia transformado aquelas pedras em chapas quentes, queimando a sola dos meus pés a cada passo.

— Ai, caralho! — soltei um grito involuntário, pulando de volta para a areia.

— O que foi, Cleiton? — Ana perguntou, se virando para mim com uma expressão preocupada.

— Tá quente demais. Não trouxe chinelo — respondi, me sentindo um idiota completo.

Kike soltou uma risadinha de deboche antes de dizer:

— Relaxa, mano. Espera aí que a gente busca seu chinelo no camping e já volta.

Os dois sumiram pelo costão, e eu fiquei ali sozinho, parado, sentindo o sol castigar minha cabeça. Olhei em volta, tentando encontrar um ponto de sombra, mas não havia nenhum. 

Nem sei por quanto tempo fiquei preso ali, esperando. Exausto e desidratado, percebi que não dava mais para contar com aqueles dois, e resolvi enfrentar o costão sozinho. Cada passo que eu dava era uma tortura, a sola dos meus pés ardendo como se estivesse derretendo e grudando nas pedras escaldantes. 

Quando finalmente alcancei o camping, estava destruído, mas determinado a matar alguém. Principalmente se eles não tivessem uma ótima explicação para não terem voltado para me resgatar.

Só que, não encontrava Ana nem Kike em lugar nenhum. Olhei na praia, entrei nas barracas e nada. Cheguei até a cogitar que eles tinham ido me levar o chinelo e, por algum azar bizarro, a gente acabou não se encontrando no caminho.

Ainda procurando, resolvi ir até a área comum do camping, onde ficavam os banheiros e as duchas. Ouvi o som da água escorrendo, mas imediatamente descartei a possibilidade de serem eles. Afinal, ninguém seria tão filho da puta a ponto de parar para tomar banho enquanto eu torrava naquele inferno.

Já estava dando meia volta para ir procurá-los novamente na praia quando escutei outro som vindo do banheiro. Uma risada. 

Uma risada que eu conhecia bem. Ana estava no chuveiro com alguém.

Capítulo 3


De todos naquela viagem, o Bruno era quem eu conhecia há mais tempo.

Ele tinha passado por poucas e boas na vida, culpa de um pai alcoólatra e violento que transformou seu lar num inferno. Justamente por isso, ele passava mais tempo na minha casa do que na dele. 

Bruno era negão, com a pele bem mais escura que a minha, muito alto e tão magro que parecia sempre um pouco desengonçado. Apesar de ser alto como um jogador de basquete, Bruno se esforçava para se tornar invisível. Ele andava curvado, olhando para baixo, sempre na dele, tentando fugir dos olhares das outras pessoas.

Eu costumava levá-lo para todos os rolês, como se fosse um irmão mais novo, mesmo que ele passasse a maior parte do tempo em silêncio, no próprio canto, tímido demais para interagir com a galera.

Eu conseguia imaginar Kike ou Leandro sendo filhos da puta o suficiente para dar em cima da Ana, já que os dois eram bem desesperados para comer tudo que se movia. Mas Bruno? Nunca. Confiava nele com a minha própria vida.

Por isso, quando me pendurei no muro e olhei pela janela do banheiro, a traição bateu muito mais forte do que eu poderia suportar.

Minha namorada estava debaixo d’água, as mãos apoiadas na parede, de costas para o Bruno, que ensaboava seus seios, enquanto abraçava por trás, esfregando seu cacete duro nela. 

Ao ver aquela cena, eu quase me esborrachei no chão, de tão surpreso que estava. Não só por estar sendo traído pelo meu melhor amigo, mas porque aquele pau era gigantesco, de uma forma que eu nem imaginava ser possível.

Desesperado, comecei a reprisar na minha mente todas as vezes que Bruno e Ana interagiram na minha frente, consumido por uma dúvida. Aquela era a primeira vez que eles faziam aquilo ou aquela putaria já estava rolando pelas minhas costas há tempos?

Honestamente, até hoje eu não sei. Se eles estavam fazendo isso antes da viagem, os dois eram atores profissionais, porque eu nunca tive nenhum motivo para desconfiar.

Fiquei ali parado sem fazer nada, só olhando, até hoje não entendo muito bem o porquê. Apenas congelei. A raiva, tristeza e vários outros sentimentos lutavam dentro de mim. Na soma de tudo, uma coisa prevaleceu, mais forte que o resto: a vergonha. 

Estava envergonhado de ser corno, morrendo de medo do resto do grupo descobrir e minha reputação ir para o saco. Não queria que o resto da minha vida estivesse marcado pelo que aconteceu naquele banheiro. 

Alheios aos meus sentimentos, os dois continuavam o que vieram fazer no chuveiro. Apertando com uma mão o peito de Ana, Bruno deslizou a outra pelo seu corpo, deixando um rastro de sabonete que ia dos seios até a cintura da minha namorada. 

Até naquela situação, ele continuava quieto e devagar, só que isso provocava um efeito oposto do que eu imaginava na minha namorada. As expectativas de Ana cresciam, até o ponto dela não aguentar de tesão, rebolando de um lado para o outro no pau enorme do meu amigo, quase implorando para que ele a penetrasse. 

Aparentemente, era só comigo que ela tinha vergonha de ser ouvida e se tornar a vagabunda do camping.

Apenas por fetiche, Bruno ensaboou a bunda gigantesca dela, sempre pressionando o membro contra ela. Depois, deixou o sabonete cair no chão propositalmente. Aproximando-se do ouvido dela, ele sussurrou:

— Pega o sabonete.

Com os pelos do braço arrepiados, Ana obedeceu. Abaixou somente com o tronco, mantendo as pernas eretas, até sua mão tocar no chão, pegando o sabonete. Antes mesmo dela completar seu objetivo, o pau ensaboado de Bruno já a penetrava.

Ana tapou a própria boca com a mão para não gritar. Bruno, puxava o cabelo da minha namorada e apertava a cintura dela tão forte que deixava uma marca. Num vai e vem controlado, metódico, tirando seu pau quase por completo antes de enfiar tudo de novo.

— Bruno, vai logo, que eu preciso levar o chinelo para o Cleiton. — Ana disse, lembrando que eu existia.

Ele aumentou o ritmo, fazendo com que Ana tivesse que colocar a outra mão na própria boca para abafar os gemidos e os gritos que queria dar por estar sendo penetrada por aquele monstro.

— Pede então. — ele disse.

— Dá leitinho para mim, meu pauzudo gostoso. — Ana respondeu imediatamente.

Cerrando os dentes e fazendo uma careta, Bruno fincou seu pau mais fundo que dava na minha namorada, antes de parar toda a movimentação. Não conseguia nem acreditar, mas ele havia gozado dentro dela, sem proteção, sem nada. 

O mais estranho de tudo aquilo para mim é que, depois de tudo, eles não se beijaram, conversaram, nem nada disso. Terminaram de se limpar naquele banheiro como se fossem desconhecidos.

Eu já estava prestes a descer, minhas pernas bambas e fracas por causa do tempo em que fiquei pendurado ali assistindo a minha própria humilhação, quando ouvi uma voz atrás de mim que quase me fez cair no chão.

— Caralho, Cleiton! Como você atravessou o costão?

Era o Kike. Pulei do muro sem jeito, quase torcendo o tornozelo, tentando me recompor. O coração acelerado, os pensamentos totalmente confusos e a sensação de vergonha queimando o rosto.

— É… eu não consegui esperar mais vocês — respondi gaguejando, sem conseguir encarar os olhos do meu amigo.

— A gente já estava indo te levar o chinelo.

Eu não fazia ideia se Kike tinha visto a cena toda ou se havia chegado apenas naquele instante. Talvez ele já soubesse. 

Talvez todos já soubessem que eu era corno faz tempo.

Capítulo 4


Kike passou a tarde inteira juntando galhos para montar uma fogueira. De noite, os quatro sentaram ao redor dela, bebendo e conversando. Eles riam, despreocupados, enquanto eu lutava contra o impulso de empurrar Ana e Bruno diretamente para as chamas.

Considerando que eu ainda precisava sobreviver ao resto daquela viagem infernal, fiz a única coisa que me parecia possível naquele momento: enchi a cara.

Para facilitar a missão, Leandro puxou um daqueles jogos de bebida, cada carta virada significava alguma coisa diferente: mandar um shot para alguém, começar uma brincadeira estúpida ou revelar algum segredo num "eu nunca". Para ser sincero, eu não entendi as regras, e estava desconfiado de que o próprio Leandro as inventava conforme o jogo avançava.

As coisas esquentaram rapidamente em volta da fogueira. Basicamente, todos os shots estavam indo para a minha namorada. Qualquer desculpa servia: "ah, é porque ela perdeu a rodada", "ah, caiu a carta vermelha", "ah, só porque ela é a mais bonita da mesa". No começo, ela reclamava de leve, fazia uma careta ou protestava, mas logo foi se soltando. 

A certa altura, Leandro virou uma carta que permitia inventar uma regra. Com o sorriso mais cretino do mundo, ele bateu a carta na perna e decretou:

— A partir de agora, toda vez que a Ana tiver que beber um shot... ela vai se ajoelhar e receber na boquinha. Eu viro a garrafa.

A roda caiu na gargalhada. Ana arregalou os olhos e deu um tapa no ombro dele, mas não protestou de verdade. Da rodada seguinte em diante, lá estava ela: de joelhos, rindo, deixando Leandro virar a garrafa diretamente na boca dela, ficando cada vez mais bêbada.

Em algum momento, caiu a carta do “eu nunca”. Kike que escolheu o tema:

— Eu nunca traí minha namorada ou namorado.

Leandro pegou a garrafa e bebeu, enquanto eu encarava Ana desesperado, rezando para que ela não revelasse a verdade para os meus amigos. 

Achei que fosse morrer quando ela caiu no chão e foi de joelhos até Leandro, esperando para receber sua dose na boca. Silêncio completo na roda, os meninos se entreolhavam chocados com aquela confissão. Percebendo o clima tenso, ela falou:

— Gente, eu não traí o Cleiton. Eu tô falando de ex. Vocês são muito dramáticos.

Eles riram, e eu respirei aliviado. Três pessoas naquela roda já sabiam que aquilo era mentira, mas pelo menos, aquilo preservava minha imagem para os outros dois.

Na rodada seguinte, caiu uma carta de desafio. Leandro olhou direto para a Ana, com aquele brilho malicioso nos olhos que já era sinal de problema.

— Princesinha, seu desafio é dançar um funk pra gente só de biquíni. Quero ver se você é tão desengonçada quanto o Cleitinho vive falando.

Aquilo era obviamente uma mentira, eu nunca falei nada parecido. Era só mais uma provocação do Leandro, feita para cutucar Ana e me colocar numa situação desconfortável.

— Ah, é, Cleiton? — Ana virou para mim com uma expressão furiosa. — Então você vai ver agora.

Mas antes que eu pudesse me defender, ela já se voltava para o Leandro com um sorrisinho debochado.

— Mas, Lê... só de biquíni já é demais, né? Vou de roupa mesmo, tá ótimo.

— O desafio é esse. Se não tiver coragem, é só tomar três shots — ele respondeu, direto, sem deixar margem para negociação.

Ana avaliou suas opções por alguns segundos, depois fez uma cara de contrariada, mas tirou a blusa e a saia. Após beber tanto, nem ela mesma se lembrava,  que ela já não estava mais de biquíni porque tinha tomado banho. Na frente dos meus amigos, minha namorada ficou apenas com seu sutiã preto e uma calcinha fio-dental combinando.

Fiquei paralisado. Levei as mãos à cabeça, em desespero. Kike já estava colocando um funk na caixinha de som, enquanto Leandro a incentivava aos gritos.

Ana foi até o chão, rebolando com ritmo e confiança. Em certo momento, chegou com o bumbum perigosamente perto da cara do Leandro, que, claro, tentou esticar a mão para tocar. Ela deu um tapa, daqueles brincalhões, no fundo, mais provocando do que repreendendo.

O único que parecia menos envolvido no espetáculo era o Bruno. Sentado, calado, ele assistia à cena com uma expressão indecifrável. Não sei se era só do jeito dele, ou se, naquele momento, ele compartilhava comigo o desejo de não dividir Ana com mais ninguém. Por mais louco que pareça, talvez ele também estivesse com ciúmes.

Quando a música chegou perto do fim, vi Kike discretamente tentando trocar a faixa, para esticar o show. Eu, que já tinha visto o bastante, coloquei um limite dizendo:

— Chega, né? Já bebemos bastante. Podemos parar o jogo aqui.

O climão foi imediato. De repente, todos lembraram que eu existia. Ana pegou as roupas no chão e se vestiu em silêncio. Bruno terminou de virar o restinho da garrafa e ninguém mais disse nada. Nem eu sabia que ainda tinha essa capacidade de impor algum tipo de controle sobre aquele circo.

A fogueira continuou acesa e a gente ficou ali, fumando e bebendo cerveja em silêncio. Aos poucos, as conversas foram voltando de forma tímida, até estarem todos brincando de novo, rindo, como se minha namorada não tivesse acabado de fazer um strip e dançado funk de fio-dental para meus amigos.

Sem que ninguém percebesse, me afastei. Voltei sozinho para o acampamento, peguei uma garrafa de Smirnoff e bebi inteira direto no gargalo. Meu plano era tomar outra, mas a vontade de mijar venceu.

Fui até o mar, arrastei os pés pela areia úmida e, enquanto me aliviava, capotei ali mesmo. Corpo largado, mente embaralhada. Desliguei. Não sei quanto tempo fiquei apagado na areia. Só sei que, quando acordei, a fogueira já tinha virado carvão e o camping estava deserto. Me levantei cambaleando, pronto para me jogar dentro da barraca e apagar de vez, mas antes de abrir o zíper, ouvi de novo.

As risadas da Ana.

Me aproximei devagar, e bastaram dois passos para entender o que estava acontecendo. Não dava para acreditar que flagrar minha namorada transando tinha virado um hábito na minha vida.

Capítulo 5


Com a escuridão a meu favor, me aproximei devagar da janelinha da barraca. Sempre ficava com uma fresta aberta, a pedido da própria Ana, que dizia que “senão o ar não circulava”. Encostei ali, em silêncio, com o coração acelerado e uma náusea crescente.

Demorei alguns segundos para entender o que exatamente estava acontecendo lá dentro.

Ana, vestindo apenas a calcinha e o sutiã preto, sentava em Bruno, punhetava-o com uma voracidade que jamais tinha visto nela. Ele retribuía, deitado de costas, o rosto enterrado entre as pernas dela, a língua trabalhando sem pausa, fazendo-a se contorcer, arfar e gemer.

Ana ia com tudo, os cabelos loiros voando para todos os lados da barraca, enquanto com o corpo inteiro subia e descia acompanhando sua punheta. Definitivamente não era a mesma menininha que tinha me rejeitado por medo de que outras pessoas do camping escutassem.

A cena era um emaranhado de corpos, difícil de decifrar à primeira vista. Mas algo me incomodava. Bruno estava diferente, não sei se a escuridão estava me pregando uma peça, mas tinha algo errado. O pau não parecia tão grande quanto a forma que eu vira no chuveiro horas atrás.

Fixei o olhar, tentando entender. Foi então que notei as tatuagens… 

As Maoris no braço esquerdo, descendo pelo bíceps até o antebraço. A vadia da minha namorada estava dando para o segundo cara no mesmo dia. Trêbada, ela estava punhetando loucamente o Leandro, o cara que ela dizia odiar. 

Quando finalmente entendi o que acontecia, Ana parou do nada, até assustei, achando que ela tinha notado minha presença. Mas, agarrando o próprio peito, descontrolada, ela anunciou:

— Aíííí! Que gostoso, eu tô gozando.

Mesmo com a cara enfiada na buceta da minha namorada, Leandro não se aguentou e começou a rir.

— Viu? Falei que conseguia fazer você gozar antes de mim.

— Pô não é justo, você demora demais… se fosse com o Cleiton, tinha gozado há muito tempo. 

Leandro não aguentou. Saiu debaixo dela e começou a rolar de um lado para o outro do colchão inflável, gargalhando daquele comentário.

— Bom, se você tivesse chupado, talvez você ganhasse. Mas sua punhetinha é bem meia boca, princesa.

— Nojo. Nunca que ia colocar essa coisa suja que você usa para mijar na minha boca. — Ana respondeu. Pelo menos nisso, ela era coerente, já que ela falava o mesmo para mim.

— Bom, então por pura frescura você perdeu. Agora posso escolher minha prenda, né? Fica de quatro, quero comer essa bundinha delícia.

— Nem fodendo! Por que homem tem essa tara escrota? É por aí que eu cago, você sabe?

— O acordo não era que o ganhador podia escolher o que quisesse?

— Você que sabe, Lê, escolhe outra coisa, ou fica sem nada.

— Gozar na sua carinha de safada então, princesa.

— Cara, você é muito abusado. Nada disso, que nojo.

— Meu Deus do céu, como o bebê te aguenta? Você é fresca demais.

Ana olhou feio para ele, incomodada pelo insulto ou por ele usar o nosso apelido carinhoso naquela situação. Ainda assim disse:

— Vai logo, daqui a pouco ele volta e daí eu não vou fazer nada para você, escolhe algo razoável.

— Gozar nos seus peitos. Tá ok assim para você, princesa?

Ana nem respondeu, apenas virou o olho e bufou, aceitando os termos. Ajoelhou do lado dele, igualzinho fez diversas vezes durante o jogo de cartas na fogueira, enquanto Leandro, de pé com as mãos na cintura, esperava que ela completasse o serviço, fazendo-o gozar.

Voltou a masturbá-lo com a mesma intensidade que da competiçãozinha deles, talvez ainda querendo provar para si que tinha talento. Leandro se contorcia, esfregava a mão no próprio corpo, mas não gozava de jeito nenhum, deliberadamente atrasando seu clímax para Ana continuar.

— Deus como você demora. Minha mão cansou. — Ana reclamou.

— Não seja por isso.

Leandro deu um passo para frente, colocou seu pau no meio dos seios da minha namorada e começou uma espanhola. Ana o ajudou, apertando o próprio seio, para garantir que o pau dele não escapasse. 

Ele arfava, gemia e suava, mas ainda assim, não parecia chegar no clímax, fazendo Ana implorar:

— Vai logo, Lê. o Cleiton deve estar chegando.

— Continua falando do corno que eu te dou a leitada.

— Você é doente. — Ana disse, virando os olhos para ele antes de continuar — Mas se é para você gozar logo…

Fez uma pausa dramática, claramente se sentindo poderosa sendo a puta dos meus amigos. 

— O seu amigo corno nem imagina que você tá fodendo a namorada dele… agora vai logo, enche a cara da princesinha de porra.

Leandro obedeceu. Jorrando sêmen no busto, no queixo e no cabelo de Ana, fazendo-a soltar um grito desesperado de asco.

Saí de lá sem fazer barulho. Andei pela praia por um tempo, tentando organizar a bagunça na minha cabeça, ou talvez só esperando que, quando eu voltasse, os dois já estivessem recompostos. Quem sabe Leandro tivesse ido dormir na barraca dele, e Ana estivesse sozinha, como se nada tivesse acontecido.

Quando cheguei, Ana estava apagada, dormindo tão pesado que nem percebeu minha volta.

Foi então que fiz algo que até hoje não entendo direito. Deitei ao lado dela, encarei o teto da barraca por um tempo, e comecei a me masturbar. A cabeça cheia de imagens do que tinha acontecido naquele dia. Tudo foi rápido, automático, sujo. E ela nem se mexeu.

Enquanto limpava a mão no lençol, o pensamento mais assustador me atravessou: torci para que aquilo tivesse sido culpa da bebida, porque se não fosse, se fosse algo mais profundo... então talvez eu fosse mesmo um corno manso. 

E isso, eu não sabia se conseguiria perdoar em mim mesmo.

<Continua>

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