Cercadas no Parque
Capítulo 1
Como eu vim parar aqui? Era a pergunta que eu me fazia repetidamente enquanto tentava entender por que estava sentada em um boteco imundo, à noite, no centro da cidade, indo contra tudo o que havia aprendido depois de anos assistindo ao Cidade Alerta. À nossa volta, havia apenas velhos decrépitos que, pela aparência, já estavam bebendo pinga muito antes de eu sair de casa pela manhã. Eles encaravam, a mim e à minha amiga Line, como se fôssemos o último pedaço de carne da Terra.
Eu sabia o como tinha ido parar lá, embora ainda tentava decifrar o por quê. Tínhamos ido ao centro para fotografar prédios antigos, por causa do trabalho final de uma matéria do curso de arquitetura que fazíamos juntas. E quando terminamos nossa missão, Line implorou para eu tomar uma cerveja com ela naquela pocilga, usando das menos sutis chantagens emocionais para isso: “Talvez seja a última vez que a gente pode sentar para beber junta, amiga.”
Em algum momento da sua infância, você e seus amigos saíram para brincar juntos pela última vez e ninguém sabia disso. Vi essa mensagem em um post no twitter e, confesso, chorei quando li, pensando exatamente na Line. Essa era a peculiaridade da nossa amizade, por ela ser uma intercambista dinamarquesa, eu sabia que em breve a gente não iria se ver mais.
Nunca imaginaria que ficaria tão emotiva com isso. Para falar a verdade, eu não gostei nada dela quando a vi pela primeira vez. Baixinha, loira, com potencial para ser a criatura mais adorável do planeta se quisesse, mas Line insistia em andar vestida inteiramente de preto, usando camisetas rasgadas estampadas com caveiras e demônios, e botas de coturno com salto alto, parecia sempre pronta para ir a algum show obscuro de rock no lugar mais decadente possível. Ela era o completo oposto de tudo o que eu acreditava e representava, e, como é comum diante do diferente, minha primeira reação foi a rejeição pura.
Então, quando fui sorteada para ser dupla justamente da Line Nørgaard, a rainha das trevas, fiquei bem frustrada. Mas agora, depois de tudo que havíamos enfrentado juntas, graças aquela convivência forçada, meu coração doía ao pensar que em breve ela iria embora. Talvez fosse por isso que naquela noite eu estivesse aceitando tudo que aquela dinamarquesa maluca pedia, inclusive beber no bar mais suspeito da cidade.
“Vamo embora Line… Eu não gosto do jeito que esses caras tão olhando pra gente.”, implorei para ela, tentando ver se conseguia convencê-lá de que talvez corríamos perigo.
“Para de ser medrosa, Eli”, ela respondeu sorrindo para mim. “Se você conhecesse esses velhinhos talvez até gostasse deles. Aquele ali no canto, tem olhos azuis bem bonitos, quem sabe hoje não é o dia de sorte dele e ele fode nós duas?”
Ela gargalhou da sua própria piada, enquanto eu sentia que nossos papéis estavam trocados. Ela, a estrangeira, parecia mais à vontade com os perigos do que eu, que sempre viveu por aqui.
Quando minha bexiga não aguentava mais, levantei para fazer xixi. A última coisa que eu queria era conhecer o banheiro daquele distinto estabelecimento, E também não queria por um segundo sair de perto da Line, mesmo sabendo que não havia muito que aquela dinamarquesa anã poderia fazer para me defender se aqueles velhos resolvessem dar vida às intenções estampadas em seus olhares.
Fiz o que tinha que fazer segurando o máximo que consegui a minha respiração, e quando saí do banheiro, tinha um senhor no corredor, bloqueando a minha passagem. Ele era alto, só pele e osso, deveria pesar menos que eu, e estava bêbado como um gambá, olhando para o chão e cambaleando.
Encostei minha bunda na parede, e olhando para baixo, tentei passar discretamente, na esperança de não chamar sua atenção. Mas quando cheguei perto dele, ele segurou meu pulso.
“Eu sei o que vocês duas estão fazendo aqui”, disse, tendo que interromper seu próprio raciocínio para soltar um arroto fedido no meu rosto. “Eu sinto o cheiro de longe quando uma vagabunda tá procurando rola.”
O velho fungou meu cabelo e passou a mão diretamente no meu seio, apertando como se quisesse verificar se eu era real. Congelei completamente.
“Os outros estão loucos pra pegar sua amiga loirinha… ela parece bem mais safada e é bem mais gostosa que você. Mas eu não”, disse ele, com seu hálito quente de pinga invadindo meu rosto. “Eu sei que atrás dessa carinha de santa e desse vestidinho de crente tem uma puta que só pensa em uma coisa.”
Meu peito doía de tão forte que ele apertava. Pânico puro tomou conta de mim quando sua mão deslizou para baixo do meu vestido. Sabia que precisava fazer algo, mas simplesmente não conseguia.
PLAFT.
Do mais absoluto nada, gritando palavras em sua língua natal, Line surgiu no corredor e deu uma garrafada na cabeça daquele velho, como uma viking, colocando-o imediatamente para dormir nos pedaços de vidro que se esparramaram pelo chão. Ela pegou minha mão e saímos correndo dali, antes que os amigos dele ou os garçons conseguissem saber o que havia acontecido.
E aquele era apenas o começo da nossa noite.
Capítulo 2
"Line, pelo amor de Deus, desce daí!", implorei para minha amiga, que, visivelmente embriagada, insistia em me provar o quanto era fácil pular o muro e entrar no parque, que estava fechado porque já era de madrugada. Não era exatamente a dificuldade que me impedia, mas sim o fato de que invadir um parque escuro no centro da cidade não fazia parte da minha lista de coisas que tenho que fazer antes de morrer. E, aliás, tinha certeza absoluta de que essa pequena aventura poderia encurtar drasticamente o tempo que tinha para realizar qualquer outra coisa nessa lista.
"Vem, Eli! Só mais uma aventura antes de eu voltar pra casa", Line respondeu, com seu sotaque tão carregado que levei alguns segundos para entender.
E lá estava eu, mais uma vez, considerando fazer algo extremamente irresponsável só porque era ela quem pedia.Nunca tive interesse em garotas, mas era difícil ignorar que havia algo em Line que me atraía profundamente, de um jeito que eu ainda não conseguia entender totalmente. Observando-a se equilibrar no topo do muro como uma criança, comecei a pensar que talvez fosse bom ter um pouco daquela loucura contagiante de
Naquela hora, morri de inveja da roupa dela. A legging preta e o casaco de couro pareciam muito mais adequados tanto para o frio que fazia naquela noite, quanto para escalar muros. Não podia nem me culpar por estar despreparada, afinal, quando escolhi meu vestido longo branco com florzinhas azuis, não fazia ideia de que terminaria a noite invadindo um parque fechado.
Após um suspiro resignado, escalei o muro com dificuldade, ajudada pela mão firme da Line.
"Viu só? Nem doeu", brincou ela, sorrindo ao me ajudar a descer do outro lado. Ainda, não, pensei, mas a aventura só tinha começado.
Demos uma volta pelo parque e, de tão tensa, demorei a perceber o quão silencioso era aquele lugar. Me peguei refletindo sobre como é curioso termos medo do silêncio, quando tudo que costuma nos machucar faz barulho. Mais estranho ainda era que minha amiga acompanhava o clima, e uma vez na vida estava quieta. Ela, que nunca suportou o vazio sonoro, e sempre tinha uma história, uma fofoca, uma teoria maluca sobre zumbis ou um joguinho tipo "quem você ressuscitaria para jantar?" – tudo só para garantir que houvesse algum som onde quer que estivesse. E agora, ali, caminhando ao meu lado, ela estava tão quieta quanto o parque.
Sentamos perto do lago que havia, e ficamos olhando para o nada. De repente, algo se moveu rápido entre os arbustos e atravessou o caminho à nossa frente. Um ratinho minúsculo, tão pequeno que parecia recém-nascido. Mas o tamanho não importava – soltei um berro agudo que ecoou pelo parque inteiro.
Line parou, arregalou os olhos e depois caiu na gargalhada.
"Meu Deus, Eli! Era um filhote de rato! Mal dava pra ver!", disse, entre risos, dobrando o corpo de tanto rir.
Eu, ainda recuperando o fôlego, cruzei os braços, envergonhada.
Line se aproximou e segurou minha mão com delicadeza. "Vem cá, sua medrosa. Eu te protejo dos monstros da noite."
Corei imediatamente, mas ela não largou minha mão. Voltávamos a caminhar, com Line falando sem parar, como se tivesse ligado um motor interno. "Esse parque escuro dava um cenário perfeito para um filme de terror, né? Já pensou? Um grupo de amigas invade o parque à noite, uma delas vê um rato minúsculo e grita... e aí tudo começa. Uma maldição ancestral, talvez? Ou uma criatura que se alimenta de gritos?"
Divagava com entusiasmo, os olhos brilhando mesmo no escuro, e a única coisa em que eu conseguia focar era a mão dela apertando a minha, quente, firme, constante. Como se dissesse sem palavras que estava ali comigo.
Pedi para irmos para casa, porque estava com muito frio, e ela tirou o próprio casaco do corpo e me envolveu com ele, puxando-o sobre meus ombros com cuidado, como se estivesse me embrulhando num gesto de afeto. “É justo que você também fique quentinha”, disse, e seu tom era leve, quase brincalhão, mas havia algo ali, no jeito como me olhou, que me deixou com mais calor por dentro do que o próprio casaco.
Fizemos a volta por uma estradinha de terra, o cascalho do caminho rangendo sob nossos pés, e a voz da Line enchendo o espaço vazio com suas ideias malucas sobre criaturas invisíveis e lendas urbanas. Ela falava com tanta empolgação que eu mal percebi quando o cheiro forte começou a se espalhar pelo ar.
Viramos uma curva do caminho de terra e demos de cara com quatro moleques sentados em círculo, fumando maconha. Um deles tossia descontroladamente, os outros riam e passavam o baseado de mão em mão.
Eles pararam quando nos viram, e o silêncio repentino fez meu estômago virar. Apertei com força a mão da Line, e tentei puxá-la para longe. Ela me acompanhou, mais devagar e menos desesperada do que eu esperava.
Os quatro saíram correndo em nossa direção como cães de caça, gritando para a gente parar e que só queriam conversar.
Meu coração disparou. Eu puxava Line pela mão, tentando acelerar o passo, mas meus pés afundavam um pouco na terra solta da trilha. O barulho deles se aproximando era como um trovão vindo por trás.
Line plantou os pés no chão, e parou bruscamente. Minha mão foi bruscamente puxada para trás, e eu quase caí de joelhos, tropeçando na barra do meu próprio vestido. Virei o rosto para ela, desesperada, mas ela só me lançou um olhar calmo, firme, como se dissesse: "Não adianta correr."
E ela estava certa. Não dava para correr mais rápido que eles. Agora… agora a gente teria que conversar com eles.
Capítulo 3
“O que duas gostosinhas tão fazendo aqui sozinhas, a essa hora?”, disse um deles, enquanto colocava a mão na minha cintura. Meu corpo encolheu por reflexo, mas eu não consegui responder.
A Line, por outro lado, não recuou. “A gente já tá indo para casa”, disse, tentando soar calma.
Não entendi o que eles acharam engraçado, mas os quatro começaram a rir daquela resposta, e minha amiga sorriu para eles, talvez tentando convencê-los a não fazer o que estavam pensando.
“Não vão a lugar nenhum”, respondeu outro com um sorriso torto. “Se quiserem sair vão ter que pagar a taxa.”
Eu me controlava para não começar a chorar desesperadamente ali. Line não conseguia esconder a raiva do olhar com aquele comentário escroto do menino, mas mesmo assim decidiu seguir no jogo deles: “Tá qual é a taxa então?”
“Quer sair? Chupa a gente primeiro.”
Dei um passo pra trás e bati direto no peito de um deles. Line respirou fundo, cruzou os braços, e olhou ao redor calculando todas as saídas possíveis.
“Vocês tão falando sério? Isso é ridículo.”, a voz dela saiu firme, mas não agressiva. “Olha, no máximo, rola uma punheta.”
Novamente, gargalhadas. Mais alto que as anteriores, mostrando que aquela tinha sido para eles a melhor piada da noite até então.
“Porra, essa é direta mesmo”, disse um, dando um passo à frente. “Gostei demais.”
Line olhou diretamente para mim, mas eu não tive tempo de dar minha opinião sobre aquele acordo. Os dois dos garotos que estavam mais perto de mim me puxaram pelo braço para perto de uma árvore, enquanto os outros dois pressionaram o ombro de Line para ela se ajoelhar no meio deles.
Fui obrigada a me afastar mais e mais da minha amiga, sentindo como se fosse desmaiar. Minha mente dissociou e por um momento, eu não sabia mais onde eu estava e o que fazia.
“Vai logo, cachorra. Bate essa punheta para gente.”, um dos meninos que estava comigo gritou.
Olhei à minha volta e os meninos perto de mim já estavam com o pau para fora se masturbando, só esperando que eu começasse. Enquanto isso, Line estava ajoelhada de olhos fechados, masturbando os dois dela ao mesmo tempo, com uma intensidade que me fazia perguntar como ela não estava cansada ainda.
Os meninos tiveram que encostar com a rola deles na minha mão, já que meu corpo não parecia ter nenhuma vontade própria. Devagarinho, sabendo que eu não teria outra escolha, fui ficando de cócoras ali, e indo para frente e para trás com os braços, sem ter a menor ideia do que eu estava fazendo. Era a primeira vez na vida que eu estava masturbando alguém.
Um dos meninos mais distantes de mim começou a gemer alto, enquanto segurava a cabeça da minha amiga. Só que ela foi mais esperta, e bloqueou com a outra mão, impedindo que aquele troglodita conseguisse o que queria: gozar no seu rosto.
Eu me desesperava percebendo que Line já tinha conseguido fazer um dos dela gozar, enquanto os dois que estavam comigo seguravam minha mão e me ensinavam como queriam que eu fizesse. Minha punheta deveria estar uma bosta, até porque meu corpo estava paralisado, desobedecendo todos os comandos que meu cérebro mandava.
Não demorou muito para que o segundo menino da Line começasse a respirar mais fundo, gemendo cada vez mais alto. Com movimentos rápidos e precisos, ela arrancou a última gota dele e afastou a mão como se fosse só mais uma tarefa cumprida. Totalmente focada, quase fria.
Então, olhou para o lado, e percebeu que eu não tinha feito nenhum progresso. Line se aproximou dos dois que estavam comigo e, sem dizer uma palavra, empurrou levemente meus braços para o lado. Se ajoelhou entre eles e assumiu o controle, como se não houvesse tempo a perder. Suas mãos se moveram rápidas, sabendo exatamente o que fazer com cada um deles. Em poucos minutos, os dois já estavam contorcendo o corpo, gemendo como os outros.
Eu fiquei de lado, assistindo aquilo acontecer. Me sentindo inútil sem nem poder ajudar a minha amiga. Ela resolveria toda a situação sozinha.
Os que estavam comigo gozaram quase simultaneamente, rindo e tentando acertar seu semên na cara da minha amiga. Line conseguia controlar aqueles animais, apesar que o último a gozar conseguiu que algumas gotas fossem parar nos cabelos dourados e ondulados dela. Não demonstrou raiva, nem nojo, só uma calma inquietante, enquanto esfregava sua mão na grama para limpá-la.
Antes que eu conseguisse sequer me mexer, um deles olhou para Line com um sorriso largo e disse: “Qual é o seu número, gata? Tu é profissional demais pra sumir assim, preciso de um reencontro”
Jurei que ela ia mandar todos se foderem. Mas, para minha surpresa, deu de ombros, puxou o celular do bolso e digitou rapidamente o número. Line entregou o número como se aquilo fosse só mais uma extensão do que tinha acabado de acontecer. Os garotos celebraram, rindo, trocando olhares de cumplicidade entre si, como se tivessem vencido algum tipo de jogo.
Quando enfim fomos deixadas sozinhas, o parque parecia mais silencioso do que antes. Só o som abafado dos meus próprios passos inseguros na terra fofa. Caminhamos em silêncio até a saída, e eu não sabia se deveria agradecer por estarmos inteiras ou vomitar tudo ali mesmo.
<Continua>
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