Sherlock Cornos - O Caso dos Pastores

CAPÍTULO 1


Não sou um cara que acredita em muitas coisas. Para mim, a única verdade imutável do mundo é que o dinheiro move montanhas. Cada indivíduo que você vê andando nas ruas de uma cidade imunda como São Paulo está indo para algum lugar, ganhar dinheiro, ou gastar o que têm. 

Cada um deles tem sua história e mentiras, e meu trabalho na Leroy & Dubois, Investigação Privada, é descobrir quais são. Só para você saber, ninguém na empresa se chama Leroy, muito menos Dubois. Mas convenhamos, "dos Santos & Silva" não atrairia o tipo de cliente cheio da grana que gosta de glamour até na placa da porta.

Oferecemos os serviços clássicos de uma Private Eye, como seguir sua esposa ou marido, e descobrir o que eles fazem quando você não está olhando. Mas, se estiver disposto a pagar o preço certo, por meio de catfishing, atores contratados ou métodos ainda menos ortodoxos, fazemos até mesmo com que seu cônjuge caia em tentação.

Por que alguém pagaria por isso? Não estou interessado em descobrir. Meu trabalho termina no relatório entregue. O que meus clientes fazem depois — se vão à justiça, chantagem ou apenas batem uma punheta olhando as provas — não é da minha conta.

Foi um jornalista furioso quem me batizou de "Sherlock dos Cornos", após eu expor a traição que resultou no fim do casamento dele. Mas sejamos justos: não dá para jogar toda a culpa em mim, afinal, não era eu que estava se aventurando com uma estagiária vinte anos mais jovem. De qualquer forma, ele achou que ao me expor para o mundo me destruiria. Mal sabia ele que estava me dando uma propaganda que dinheiro nenhum pagaria.

Se nós, investigadores, somos heróis ou monstros, deixo que o leitor decida. Afinal, se você é fiel, não há motivo para temer nossa presença. No entanto, parece evidente que cada uma das milhões de almas desta cidade decadente só está esperando pela oportunidade certa para trair umas às outras.

Quando esse caso aconteceu, eu já tinha bastante tempo de estrada. Estava acostumado a ver os maridos desesperados e as esposas furiosas entrando no meu escritório. Só que aquela vez era diferente. Era a primeira vez que entrava um casal na minha sala. Fiquei em silêncio esperando que eles explicassem o que queriam, porque desconfiava que eles não estavam dispostos a pagar o meu preço para um investigar o outro.

Coloquei a mão na minha cabeça e fechei os olhos enquanto eles sentavam nas cadeiras na frente da minha mesa. Eles me pareciam estranhamente familiares, embora não conseguisse lembrar de forma alguma de onde os conhecia. Foi o marido o primeiro a falar:

— Precisamos de sua ajuda com uma situação… — disse de uma forma pausada e com a voz bem mais efusiva que a necessária, enquanto a esposa se coçava e movia o olho freneticamente a tudo à sua volta — Precisamos saber se a namorada do nosso filho é virtuosa como ela alega ser.

"Virtuosa"... Uma escolha de palavra curiosa. E familiar. Eu já tinha ouvido aquele mesmo homem usá-la antes, com a mesma entonação forçada. Enquanto tomava o primeiro gole do meu café, minha mente começou a trabalhar — silenciosa, afiada — resolvendo o primeiro mistério do dia: quem eram, de fato, os indivíduos à minha frente, e o que realmente queriam de mim.

Pastores, um nome estranho que damos para quem vive roubando dos pobres para dar a si mesmo. E na minha frente estavam dois dos maiores profissionais nesse golpe. Tanto é que foram convidados para participar de uma CPI, e nela que ouvi pela primeira vez aquele mesmo senhor à minha frente dizendo que a família era virtuosa e não tinha cometido os crimes alegados.

Para pessoas tão virtuosas, eles estavam bem preparados para rolar na lama comigo. A esposa me passou um envelope marrom por cima da mesa. Peguei o meu abridor de cartas e cortei o lacre. Me senti voltar no tempo, nem lembrava quando foi a última vez que tive fotos impressas nas minhas mãos.

Eram do meu alvo.

Loirinha, pele clara, uma carinha angelical ainda com traços adolescentes, mas com olhos que prometiam tudo menos inocência. O corpo parecia ter sido esculpido por uma divindade bem mal-intencionada: peitos redondos e firmes preenchendo uma blusinha branca supostamente discreta, bunda durinha e uma cintura fina, dessas que raramente surgem sem muito suor. 

Se essa mulher estava com o filho desse casal, eles de fato tinham motivos para se preocupar. Para a maioria das pessoas, pode parecer odioso pais contratarem um detetive particular para investigar a namorada do próprio filho, mas sejamos honestos: qualquer um, com tanta coisa em jogo quanto aqueles dois, faria o mesmo. 

Um casamento não significava apenas a união de dois jovens apaixonados, mas também a inclusão de um novo cúmplice em seus esquemas. A garota teria acesso direto à fortuna e os segredos obscuros daquela família.

Passei foto por foto que eles me deram com calma, fingindo que analisava algum detalhe, quando na verdade só pensava o quanto iria ganhar de dinheiro no caso mais fácil da minha vida. 

Nossa agência trabalha com uma taxa fixa inicial relativamente baixa, mas se a infidelidade fosse confirmada, o valor crescia exponencialmente. Oficialmente, era uma garantia aos clientes de que nossos investigadores se dedicariam ao máximo, revirando até a última pedra. Mas, sendo brutalmente honesto, era o nosso ganha-pão. Se alguém está pagando tanto dinheiro para um porco farejar trufas, a chance delas estarem por perto é quase garantida.

— Sabe, a gente só precisa saber se ela é mesmo quem diz. Os dois estão se guardando para o casamento… seria horrível descobrir qualquer novidade depois que eles estarem em uma comunhão sagrada. — disse a pastora, tentando justificar para mim porque ela precisava violar violentamente a privacidade do próprio filho, sem saber que o dinheiro era a única explicação que eu precisava.

— Sim, entendo perfeitamente — respondi com meu tom mais simpático que eu conseguia, temendo que desistissem a qualquer momento — É melhor prevenir do que remediar, não é? Agora só precisamos decidir quais serviços vocês preferem. Podemos, por exemplo, criar perfis falsos para tentá-la...

Minha língua foi mais rápida que meu juízo. Travei no meio da frase assim que vi o olhar horrorizado da pastora ao ouvir a palavra “tentá-la”.

— Não. Apenas investigação. Tentá-la seria uma armadilha do coisa ruim — disse ela, com a convicção.

Pelo olhar do pastor, ficava claro que ele achava a esposa uma imbecil por acreditar naquela conversa fiada. Aparentemente, apenas um deles engolia as baboseiras que costumavam despejar sobre suas ovelhas. Anotei mentalmente: se as coisas não saíssem como planejado, eu poderia investigar o sujeito à minha frente. Certamente, a esposa pagaria muito bem para descobrir que estava na longa lista de pessoas enganadas pelo marido.

— Por enquanto, só queremos o serviço de detetive particular mesmo — disse o marido, e apesar de estar concordando com sua esposa, ele mostrava que a decisão final era dele.

O "por enquanto" não me escapou. Se eu não descobrisse uma traição, estava claro que aquele homem faria qualquer coisa para separar o filho da namorada. Ele via o mesmo que eu: algo estava profundamente errado naquele jovens fofos, esperando pelo casamento. Algo não batia.

Ele assinou o contrato básico de investigação e ambos deixaram minha sala. Fiquei encarando a foto da garota e, por um breve instante, senti pena dela. Provavelmente havia investido bastante tempo arquitetando aquele golpe que a catapultaria direto para uma vida milionária. Infelizmente, ela cruzou meu caminho.

Não pouparia esforços para revelar a verdadeira face daquela santinha do pau oco.


CAPÍTULO 2


Um investigador chinfrim olha para uma cena do crime e se concentra no óbvio: impressões digitais, poças de sangue, armas do crime… um bando de amadores. Qualquer idiota com um par de olhos enxerga, em segundos, tudo o que está presente. A verdadeira questão e a única que realmente importa, é: o que deveria estar ali e não está?

Para meu completo desespero, depois de seguir a namoradinha do filho dos pastores por um dia inteiro, tudo indicava que não havia sexo algum. Nenhuma troca de olhares maliciosa, nenhuma escapadinha, nenhuma mensagem com emojis suspeitos. Aquela loirinha, que tinha potencial pra arruinar casamentos só com um sorriso, parecia não usar seus superpoderes.

O que estava faltando? O que deveria existir ali e não estava?

Naquele dia, ela saiu de casa pontualmente às sete e quarenta. Vestia uma saia jeans que descia até o meio da canela, uma blusinha branca sem decote, e um casaquinho bege que parecia ter saído de um brechó evangélico. O cabelo, preso num rabo de cavalo modesto, balançava como o de uma garotinha. Conservadora até o osso. Impecável na encenação.

Ainda assim, bastava ela passar por um ponto de ônibus para os homens virarem animais no cio. Não importava o quanto tentasse se cobrir — aquilo só parecia atiçar mais os instintos primitivos da massa. Pedreiros, motoboys, engravatados, até um velhinho encostado numa banca de jornal soltou um “bom dia, princesa” com voz de fumante terminal.

Na faculdade, o ambiente era só um pouco menos patético. Um nerdzinho magrelo, criou coragem e se aproximou. Tímido, gaguejou alguma coisa sobre um novo filme da Marvel, um convite pra ir ao cinema, sem perceber a diferença de escalão que existiam entre os dois.

Ela sorriu, daquele jeito doce que faria qualquer homem acreditar em redenção, e respondeu com uma voz fina:

— Ah, eu não assisto filme de super-herói, não… essas coisas da Disney são tudo do capeta.

O nerd engoliu em seco, sem saber se aquilo era uma piada.

— Mas, se você quiser ir no cinema, meu pastor recomendou um filme que está em cartaz sobre os últimos dias de Cristo, posso chamar meu namorado e a gente vai junto. Pode ser uma bênção!

Falou isso como se fosse a coisa mais natural do mundo. Sem perceber que o coitado só queria mesmo era levar ela pra ver qualquer porcaria na última fileira e tentar, quem sabe, roçar nela até o fim do filme. Em vez disso, ganhou um convite para se converter.

No horário do almoço, ela seguiu para a academia, carregando uma mochilinha cor-de-rosa com um chaveiro de coração pendurado no zíper. Eu quase pulei de alegria no banco do carro. Se existia um lugar onde a luxúria era servida junto com whey protein, era ali. Nenhum ser humano com mais de 3% de testosterona conseguia se manter puro num ambiente desses — ainda mais com ela presente.

Trocou de roupa no vestiário e saiu de lá com uma calça legging preta e uma camiseta branca enorme com os dizeres “JESUS SALVA” em letras garrafais. Foi direto pro agachamento no smith. 

E, como eu já esperava, não demorou pra aparecer um instrutor, bronzeado, tatuado, com cara de quem passa mais tempo ajustando o short do que estudando biomecânica. Chegou por trás dela com aquele ar de quem só quer “ajudar”.

— Deixa eu te dar uma força aqui no agachamento, beleza? — disse ele, já posicionando as mãos “estrategicamente” próximas à cintura dela, roçando o corpo no dela com a desculpa da “correção postural”. Ao fim da série, o volume na sua calça tornava impossível disfarçar quão animado estava em ajudar sua aluna.

— Qual seu nome? — perguntou.

— Ester.

— Ester… bonito. Pode me passar seu número? Sei que você não parece iniciante, mas se quiser umas dicas de treino, posso te acompanhar.

Ela pareceu sinceramente surpresa com a proposta.

— Ah, obrigada, mas não estou procurando personal agora. Já sigo meu plano direitinho. O templo do Espírito Santo merece cuidado, né?

O cara deu uma risadinha sem graça, sem saber que ela realmente acreditava nas palavras que dizia. 

E mais uma vez, nada. Nenhum deslize, nenhuma pista, nenhum pecado sequer. Nem quando a tentação literalmente se esfregava nela. Isso não era pureza. Isso era sobrenatural.

Depois da academia, ela voltou pra casa e ficou o resto da tarde estudando no quarto. Às seis, colocou uma saia longa florida, prendeu o cabelo num coque apertado, pegou a bíblia e saiu rumo ao culto.

Foi o sinal que eu precisava. Era hora das armas pesadas.

Assim que ela virou a esquina, entrei em ação. Pulei o muro com a destreza de quem já fez isso vezes demais pra se orgulhar. Em menos de cinco minutos, a casa estava completamente tomada. Uma microcâmera na sala, outra no corredor, duas no quarto e até uma no banheiro o. Conectei tudo ao meu sistema remoto, com sinal criptografado e upload direto pros meus servidores.

Peguei o laptop em cima da escrivaninha e instalei um programinha de monitoramento. Agora tudo o que ela digitasse seria registrado: senhas, buscas, mensagens. Em minutos, consegui acesso ao e-mail, contas de redes sociais e o WhatsApp dela.

O que encontrei? Nada demais. Nenhuma sacanagem escondida, nenhuma troca quente com desconhecidos. As mensagens que mais se repetiam eram com as amigas do grupo de estudo bíblico. Conversas sobre salmos, dúvidas sobre passagens do Novo Testamento, links de vídeos com pregadores.

Fiquei as duas horas que ela esteve na igreja vasculhando cada centímetro da vida digital dela, o desespero crescendo dentro de mim. Fiz buscas por palavras-chave: o nome do namorado, dos sogros, “sexo”, “nude”, “escondido”, “encontro”... nada.

Cheguei a cogitar que talvez fosse isso mesmo. De todas as novinhas sapecas do mundo que só pensam em sexo e dinheiro, meu alvo era justamente a última pessoa virtuosa.

Talvez ela fosse assexual. Vai saber, uma mutação genética rara que eliminou por completo qualquer impulso carnal. Ou, quem sabe, a lavagem cerebral da igreja tenha sido eficiente demais, e ela realmente acreditasse que Jesus estava, invisível, ao lado dela o tempo todo, pronto pra apontar o dedo caso rolasse uma troca de olhares mais ousada. Se fosse isso, confesso: o pastor da igreja que ela visitava merecia um prêmio por controle mental.

Nada fazia sentido. Eu já tinha visto de tudo. Garotas que fingem ser santas pra enganar os sogros, evangélicas que mudam de personalidade no estacionamento do culto, e até freiras com fetiche em padre. Mas aquela menina… ela era de outro planeta. 

Ela não seduzia. Não flertava. Não respondia com malícia nem sem querer.

Diferente de todos nós, ela parecia sempre saciada.

Capítulo 3


Depois de uma semana, tudo que eu consegui foi perder sete dias. Ela seguia a mesma rotina todo santo dia, como se fosse alguma espécie de robô

A única coisa fora do padrão foi sábado, onde ela e o namorado saíram jantar. Escolheram um restaurante italiano metido a chique, daqueles que cobram duzentos reais num prato minúsculo e acham que luz baixa é sinônimo de sofisticação. 

Eu já conhecia o lugar — não era a primeira vez que espiava um casal ali. Peguei uma mesa discreta num canto estratégico, perto o suficiente para ouvir a conversa, longe o bastante para não levantar suspeitas dos seguranças que sempre cercavam o rapaz como se ele fosse herdeiro da máfia.

Ouvi e assisti o que eles faziam, e cheguei até a ter pena do moleque. O cara passou o jantar inteiro tentando alguma coisa. Carinho no joelho, elogio meloso, passou a mão no cabelo dela, usando a clássica tática do 0-0-11. 

— Que tal dormir lá em casa hoje, amor? — ele soltou, com um sorriso ensaiado e tentando soar casual

— Ah, amor… você sabe que não dá. — respondeu, com aquele entusiasmo irritantemente fofo — Falta tão pouquinho pro casamento! Depois a gente vai dormir juntinho todo dia... até você enjoar de mim!

— A gente só dorme abraçadinho, não vai acontecer nada.

—  O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal, conservado puro, pois Deus julgará os imorais e os adúlteros. — ela recitou. Pela entonação que usou, tive a convicção que ela não entendia exatamente as palavras que saíam da boca dela, mas ainda assim, estava firme na sua decisão.

Ele deu de ombros e aceitou a derrota. Pagou a conta, levou a moça até em casa e, depois de toda aquela melação forçada, os dois ainda terminaram com uma oração de mãos dadas no portão. Ela deu um selinho, desejou uma boa noite e entrou, deixando-o ali com cara de idiota apaixonado.

Era como assistir um romance medieval. Tudo que faltava era o cavalo branco e uma carta escrita à pena. Não conseguia acreditar que meu bônus agora dependia daquela fanática maluca que tratava beijo na boca como pecado capital.

Já passava da meia-noite quando mandei mensagem pro meu sócio: “Me encontra no Bar.” Nem precisei dar mais explicações. Ele sabia que se eu estava chamando naquela hora, não era pra bater papo sobre futebol.

A verdade é que eu queria algo mais forte do que beber. Algo que me fizesse esquecer aquela semana inútil. Mas meu fornecedor já tinha deixado bem claro que, se eu aparecesse lá de novo sem pagar o que devia, ia acordar duro e frio num terreno baldio. Preferi viver. No bar, pelo menos o sócio pagava a conta, e eu tinha alguém pra despejar o lixo mental que estava acumulando.

Ele chegou com a cara de sempre: cansado, mal-humorado e de olho nas garçonetes como se tivesse algum futuro ali. Pediu uma dose dupla de uísque e um pastel de carne. Enquanto a gordura escorria pelo papel, eu contei tudo. Falei da rotina da menina, do culto, da academia, do restaurante italiano onde o namorado tentou, sem sucesso, marcar um gol antes do casamento. Falei da virgindade obstinada, da recusa ao toque, do sermão decorado. E quando terminei, larguei o copo na mesa com força.

— Eu tô num beco sem saída, mano. É como se ela fosse feita de pedra. 

Ele deu uma risada curta e sacudiu o gelo no copo.

— Toda menina dessa idade é apaixonada por alguma coisa — disse, mastigando sem pressa. — A nerd é apaixonada pelo professor. A gótica, por algum lobisomem com cara de sofrimento. E essa tua fanática aí...

Ele levantou o dedo e apontou pro teto.

— Essa aí tá apaixonada por Jesus, irmão.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, encarando o fundo do meu copo. Jesus. O pior rival de todos os tempos. Veio para Terra só para mostrar quão fudido todos nós somos.

Deixei o carro na rua mesmo, e saí do bar cambaleando, andando devagar pelas calçadas vazias. Olhei pro horizonte como se esperasse encontrar uma resposta nele. O mundo inteiro estava quieto, exceto pela minha cabeça, que zunia como se tivesse um enxame preso.

Cheguei em casa por volta das três da manhã, e por mais que meu corpo implorasse por descanso, o sono não veio. Rolei na cama, parecia que os lençois estavam cobertos de cacos de vidro. O caso não saía da minha cabeça. Aquela garota, aquela rotina perfeita, aquele namoro platônico absurdo… Algo não batia.

Abri o WhatsApp dela e comecei a clicar nas conversas, uma por uma. Aleatoriamente. Grupo da igreja, grupo das amigas do estudo bíblico, conversa com a mãe, com o namorado, com a prima que se mudou pro interior. Meu instinto gritava que a resposta estava ali — mas em algum canto que eu ainda não tinha olhado.

Foi então que cheguei na conversa com o pastor. Vazia. Nenhuma troca. Nenhuma saudação, nem bom dia, nem bênção, nem versículo. Nada. Um silêncio absoluto. Um buraco digital.

A menina ia pra igreja todos os dias há anos, era praticamente uma mobília do templo. 

E nunca, em todos aqueles anos, havia mandado sequer um “amém” pelo WhatsApp pro pastor?

Ali tinha algo muito errado.

<Continua>

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