Cercadas no Parque

Capítulo 1


Como eu vim parar aqui? Era a pergunta que eu me fazia repetidamente enquanto tentava entender por que estava sentada em um boteco imundo, à noite, no centro da cidade, indo contra tudo o que havia aprendido depois de anos assistindo ao Cidade Alerta. À nossa volta, havia apenas velhos decrépitos que, pela aparência, já estavam bebendo pinga muito antes de eu sair de casa pela manhã. Eles encaravam, a mim e à minha amiga Line, como se fôssemos o último pedaço de carne da Terra.

Eu sabia o como tinha ido parar lá, embora ainda tentava decifrar o por quê. Tínhamos ido ao centro para fotografar prédios antigos, por causa do trabalho final de uma matéria do curso de arquitetura que fazíamos juntas. E quando terminamos nossa missão, Line implorou para eu tomar uma cerveja com ela naquela pocilga, usando das menos sutis chantagens emocionais para isso: “Talvez seja a última vez que a gente pode sentar para beber junta, amiga.” 

Em algum momento da sua infância, você e seus amigos saíram para brincar juntos pela última vez e ninguém sabia disso. Vi essa mensagem em um post no twitter e, confesso, chorei quando li, pensando exatamente na Line. Essa era a peculiaridade da nossa amizade, por ela ser uma intercambista dinamarquesa, eu sabia que em breve a gente não iria se ver mais.

Nunca imaginaria que ficaria tão emotiva com isso. Para falar a verdade, eu não gostei nada dela quando a vi pela primeira vez. Baixinha, loira, com potencial para ser a criatura mais adorável do planeta se quisesse, mas Line insistia em andar vestida inteiramente de preto, usando camisetas rasgadas estampadas com caveiras e demônios, e botas de coturno com salto alto, parecia sempre pronta para ir a algum show obscuro de rock no lugar mais decadente possível. Ela era o completo oposto de tudo o que eu acreditava e representava, e, como é comum diante do diferente, minha primeira reação foi a rejeição pura.

Então, quando fui sorteada para ser dupla justamente da Line Nørgaard, a rainha das trevas, fiquei bem frustrada. Mas agora, depois de tudo que havíamos enfrentado juntas, graças aquela convivência forçada, meu coração doía ao pensar que em breve ela iria embora. Talvez fosse por isso que naquela noite eu estivesse aceitando tudo que aquela dinamarquesa maluca pedia, inclusive beber no bar mais suspeito da cidade.

“Vamo embora Line… Eu não gosto do jeito que esses caras tão olhando pra gente.”, implorei para ela, tentando ver se conseguia convencê-lá de que talvez corríamos perigo.

“Para de ser medrosa, Eli”, ela respondeu sorrindo para mim. “Se você conhecesse esses velhinhos talvez até gostasse deles. Aquele ali no canto, tem olhos azuis bem bonitos, quem sabe hoje não é o dia de sorte dele e ele fode nós duas?”

Ela gargalhou da sua própria piada, enquanto eu sentia que nossos papéis estavam trocados. Ela, a estrangeira, parecia mais à vontade com os perigos do que eu, que sempre viveu por aqui.

Quando minha bexiga não aguentava mais, levantei para fazer xixi. A última coisa que eu queria era conhecer o banheiro daquele distinto estabelecimento, E também não queria por um segundo sair de perto da Line, mesmo sabendo que não havia muito que aquela dinamarquesa anã poderia fazer para me defender se aqueles velhos resolvessem dar vida às intenções estampadas em seus olhares.

Fiz o que tinha que fazer segurando o máximo que consegui a minha respiração, e quando saí do banheiro, tinha um senhor no corredor, bloqueando a minha passagem. Ele era alto, só pele e osso, deveria pesar menos que eu, e estava bêbado como um gambá, olhando para o chão e cambaleando. 

Encostei minha bunda na parede, e olhando para baixo, tentei passar discretamente, na esperança de não chamar sua atenção. Mas quando cheguei perto dele, ele segurou meu pulso.

“Eu sei o que vocês duas estão fazendo aqui”, disse, tendo que interromper seu próprio raciocínio para soltar um arroto fedido no meu rosto. “Eu sinto o cheiro de longe quando uma vagabunda tá procurando rola.”

O velho fungou meu cabelo e passou a mão diretamente no meu seio, apertando como se quisesse verificar se eu era real. Congelei completamente.

“Os outros estão loucos pra pegar sua amiga loirinha… ela parece bem mais safada e é bem mais gostosa que você. Mas eu não”, disse ele, com seu hálito quente de pinga invadindo meu rosto. “Eu sei que atrás dessa carinha de santa e desse vestidinho de crente tem uma puta que só pensa em uma coisa.”

Meu peito doía de tão forte que ele apertava. Pânico puro tomou conta de mim quando sua mão deslizou para baixo do meu vestido. Sabia que precisava fazer algo, mas simplesmente não conseguia.

PLAFT.

Do mais absoluto nada, gritando palavras em sua língua natal, Line surgiu no corredor e deu uma garrafada na cabeça daquele velho, como uma viking, colocando-o imediatamente para dormir nos pedaços de vidro que se esparramaram pelo chão. Ela pegou minha mão e saímos correndo dali, antes que os amigos dele ou os garçons conseguissem saber o que havia acontecido.

E aquele era apenas o começo da nossa noite.

Capítulo 2


"Line, pelo amor de Deus, desce daí!", implorei para minha amiga, que, visivelmente embriagada, insistia em me provar o quanto era fácil pular o muro e entrar no parque, que estava fechado porque já era de madrugada. Não era exatamente a dificuldade que me impedia, mas sim o fato de que invadir um parque escuro no centro da cidade não fazia parte da minha lista de coisas que tenho que fazer antes de morrer. E, aliás, tinha certeza absoluta de que essa pequena aventura poderia encurtar drasticamente o tempo que tinha para realizar qualquer outra coisa nessa lista.

"Vem, Eli! Só mais uma aventura antes de eu voltar pra casa", Line respondeu, com seu sotaque tão carregado que levei alguns segundos para entender.

E lá estava eu, mais uma vez, considerando fazer algo extremamente irresponsável só porque era ela quem pedia.Nunca tive interesse em garotas, mas era difícil ignorar que havia algo em Line que me atraía profundamente, de um jeito que eu ainda não conseguia entender totalmente. Observando-a se equilibrar no topo do muro como uma criança, comecei a pensar que talvez fosse bom ter um pouco daquela loucura contagiante de

Naquela hora, morri de inveja da roupa dela. A legging preta e o casaco de couro pareciam muito mais adequados tanto para o frio que fazia naquela noite, quanto para escalar muros. Não podia nem me culpar por estar despreparada, afinal, quando escolhi meu vestido longo branco com florzinhas azuis, não fazia ideia de que terminaria a noite invadindo um parque fechado.

Após um suspiro resignado, escalei o muro com dificuldade, ajudada pela mão firme da Line.

"Viu só? Nem doeu", brincou ela, sorrindo ao me ajudar a descer do outro lado. Ainda, não, pensei, mas a aventura só tinha começado.

Demos uma volta pelo parque e, de tão tensa, demorei a perceber o quão silencioso era aquele lugar. Me peguei refletindo sobre como é curioso termos medo do silêncio, quando tudo que costuma nos machucar faz barulho. Mais estranho ainda era que minha amiga acompanhava o clima, e uma vez na vida estava quieta. Ela, que nunca suportou o vazio sonoro, e sempre tinha uma história, uma fofoca, uma teoria maluca sobre zumbis ou um joguinho tipo "quem você ressuscitaria para jantar?" – tudo só para garantir que houvesse algum som onde quer que estivesse. E agora, ali, caminhando ao meu lado, ela estava tão quieta quanto o parque.

Sentamos perto do lago que havia, e ficamos olhando para o nada. De repente, algo se moveu rápido entre os arbustos e atravessou o caminho à nossa frente. Um ratinho minúsculo, tão pequeno que parecia recém-nascido. Mas o tamanho não importava – soltei um berro agudo que ecoou pelo parque inteiro.

Line parou, arregalou os olhos e depois caiu na gargalhada.

"Meu Deus, Eli! Era um filhote de rato! Mal dava pra ver!", disse, entre risos, dobrando o corpo de tanto rir.

Eu, ainda recuperando o fôlego, cruzei os braços, envergonhada.

Line se aproximou e segurou minha mão com delicadeza. "Vem cá, sua medrosa. Eu te protejo dos monstros da noite."

Corei imediatamente, mas ela não largou minha mão. Voltávamos a caminhar, com Line falando sem parar, como se tivesse ligado um motor interno. "Esse parque escuro dava um cenário perfeito para um filme de terror, né? Já pensou? Um grupo de amigas invade o parque à noite, uma delas vê um rato minúsculo e grita... e aí tudo começa. Uma maldição ancestral, talvez? Ou uma criatura que se alimenta de gritos?"

Divagava com entusiasmo, os olhos brilhando mesmo no escuro, e a única coisa em que eu conseguia focar era a mão dela apertando a minha, quente, firme, constante. Como se dissesse sem palavras que estava ali comigo.

Pedi para irmos para casa, porque estava com muito frio, e ela tirou o próprio casaco do corpo e me envolveu com ele, puxando-o sobre meus ombros com cuidado, como se estivesse me embrulhando num gesto de afeto. “É justo que você também fique quentinha”, disse, e seu tom era leve, quase brincalhão, mas havia algo ali, no jeito como me olhou, que me deixou com mais calor por dentro do que o próprio casaco.

Fizemos a volta por uma estradinha de terra, o cascalho do caminho rangendo sob nossos pés, e a voz da Line enchendo o espaço vazio com suas ideias malucas sobre criaturas invisíveis e lendas urbanas. Ela falava com tanta empolgação que eu mal percebi quando o cheiro forte começou a se espalhar pelo ar. 

Viramos uma curva do caminho de terra e demos de cara com quatro moleques sentados em círculo, fumando maconha. Um deles tossia descontroladamente, os outros riam e passavam o baseado de mão em mão. 

Eles pararam quando nos viram, e o silêncio repentino fez meu estômago virar. Apertei com força a mão da Line, e tentei puxá-la para longe. Ela me acompanhou, mais devagar e menos desesperada do que eu esperava. 

Os quatro saíram correndo em nossa direção como cães de caça, gritando para a gente parar e que só queriam conversar.

Meu coração disparou. Eu puxava Line pela mão, tentando acelerar o passo, mas meus pés afundavam um pouco na terra solta da trilha. O barulho deles se aproximando era como um trovão vindo por trás.

Line plantou os pés no chão, e parou bruscamente. Minha mão foi bruscamente puxada para trás, e eu quase caí de joelhos, tropeçando na barra do meu próprio vestido. Virei o rosto para ela, desesperada, mas ela só me lançou um olhar calmo, firme, como se dissesse: "Não adianta correr."

E ela estava certa. Não dava para correr mais rápido que eles. Agora… agora a gente teria que conversar com eles.

Capítulo 3


“O que duas gostosinhas tão fazendo aqui sozinhas, a essa hora?”, disse um deles, enquanto colocava a mão na minha cintura. Meu corpo encolheu por reflexo, mas eu não consegui responder.

A Line, por outro lado, não recuou. “A gente já tá indo para casa”, disse, tentando soar calma. 

Não entendi o que eles acharam engraçado, mas os quatro começaram a rir daquela resposta, e minha amiga sorriu para eles, talvez tentando convencê-los a não fazer o que estavam pensando.

“Não vão a lugar nenhum”, respondeu outro com um sorriso torto. “Se quiserem sair vão ter que pagar a taxa.”

Eu me controlava para não começar a chorar desesperadamente ali. Line não conseguia esconder a raiva do olhar com aquele comentário escroto do menino, mas mesmo assim decidiu seguir no jogo deles: “Tá qual é a taxa então?”

“Quer sair? Chupa a gente primeiro.”

Dei um passo pra trás e bati direto no peito de um deles. Line respirou fundo, cruzou os braços, e olhou ao redor calculando todas as saídas possíveis.

“Vocês tão falando sério? Isso é ridículo.”, a voz dela saiu firme, mas não agressiva. “Olha, no máximo, rola uma punheta.” 

Novamente, gargalhadas. Mais alto que as anteriores, mostrando que aquela tinha sido para eles a melhor piada da noite até então. 

“Porra, essa é direta mesmo”, disse um, dando um passo à frente. “Gostei demais.”

Line olhou diretamente para mim, mas eu não tive tempo de dar minha opinião sobre aquele acordo. Os dois dos garotos que estavam mais perto de mim me puxaram pelo braço para perto de uma árvore, enquanto os outros dois pressionaram o ombro de Line para ela se ajoelhar no meio deles. 

Fui obrigada a me afastar mais e mais da minha amiga, sentindo como se fosse desmaiar. Minha mente dissociou e por um momento, eu não sabia mais onde eu estava e o que fazia.

“Vai logo, cachorra. Bate essa punheta para gente.”, um dos meninos que estava comigo gritou.

Olhei à minha volta e os meninos perto de mim já estavam com o pau para fora se masturbando, só esperando que eu começasse. Enquanto isso, Line estava ajoelhada de olhos fechados, masturbando os dois dela ao mesmo tempo, com uma intensidade que me fazia perguntar como ela não estava cansada ainda.

Os meninos tiveram que encostar com a rola deles na minha mão, já que meu corpo não parecia ter nenhuma vontade própria. Devagarinho, sabendo que eu não teria outra escolha, fui ficando de cócoras ali, e indo para frente e para trás com os braços, sem ter a menor ideia do que eu estava fazendo. Era a primeira vez na vida que eu estava masturbando alguém.

Um dos meninos mais distantes de mim começou a gemer alto, enquanto segurava a cabeça da minha amiga. Só que ela foi mais esperta, e bloqueou com a outra mão, impedindo que aquele troglodita conseguisse o que queria: gozar no seu rosto.

Eu me desesperava percebendo que Line já tinha conseguido fazer um dos dela gozar, enquanto os dois que estavam comigo seguravam minha mão e me ensinavam como queriam que eu fizesse. Minha punheta deveria estar uma bosta, até porque meu corpo estava paralisado, desobedecendo todos os comandos que meu cérebro mandava.

Não demorou muito para que o segundo menino da Line começasse a respirar mais fundo, gemendo cada vez mais alto. Com movimentos rápidos e precisos, ela arrancou a última gota dele e afastou a mão como se fosse só mais uma tarefa cumprida. Totalmente focada, quase fria. 

Então, olhou para o lado, e percebeu que eu não tinha feito nenhum progresso. Line se aproximou dos dois que estavam comigo e, sem dizer uma palavra, empurrou levemente meus braços para o lado. Se ajoelhou entre eles e assumiu o controle, como se não houvesse tempo a perder. Suas mãos se moveram rápidas, sabendo exatamente o que fazer com cada um deles. Em poucos minutos, os dois já estavam contorcendo o corpo, gemendo como os outros.

Eu fiquei de lado, assistindo aquilo acontecer. Me sentindo inútil sem nem poder ajudar a minha amiga. Ela resolveria toda a situação sozinha.

Os que estavam comigo gozaram quase simultaneamente, rindo e tentando acertar seu semên na cara da minha amiga. Line conseguia controlar aqueles animais, apesar que o último a gozar conseguiu que algumas gotas fossem parar nos cabelos dourados e ondulados dela. Não demonstrou raiva, nem nojo, só uma calma inquietante, enquanto esfregava sua mão na grama para limpá-la.

Antes que eu conseguisse sequer me mexer, um deles olhou para Line com um sorriso largo e disse: “Qual é o seu número, gata? Tu é profissional demais pra sumir assim, preciso de um reencontro”

Jurei que ela ia mandar todos se foderem. Mas, para minha surpresa, deu de ombros, puxou o celular do bolso e digitou rapidamente o número. Line entregou o número como se aquilo fosse só mais uma extensão do que tinha acabado de acontecer. Os garotos celebraram, rindo, trocando olhares de cumplicidade entre si, como se tivessem vencido algum tipo de jogo.

Quando enfim fomos deixadas sozinhas, o parque parecia mais silencioso do que antes. Só o som abafado dos meus próprios passos inseguros na terra fofa. Caminhamos em silêncio até a saída, e eu não sabia se deveria agradecer por estarmos inteiras ou vomitar tudo ali mesmo.

Capítulo 4


Juro, parecia que eu tinha atravessado o espelho e estava num mundo que eu não conhecia ou entendia. Não dava para acreditar que aqueles moleques do parque tinha adicionando eu e a Line no Instagram e estavam reagindo no nossos stories, puxando papo.

Fora que a minha amiga estava contando para todo mundo da faculdade o que tinha acontecido com a gente no parque. Se gabava como tinha “negociado” uma punheta ao invés de chupar os caras. 

Me peguei, um dia, até mesmo rindo da forma exagerada e divertida que Line contava a história como se fosse uma grande aventura cheia de percalços, mas que tudo tinha ficado bem no final. 

Quando estava lá no parque, achei que tudo aquilo teria um impacto irrecuperável na minha vida, mas a forma que minha amiga via sua própria história, deixava as coisas tão simples, que eu me permiti perguntar se aquilo tudo era uma questão de escolha.

A coisa que mais estava me fazendo sofrer, na verdade, era a volta da Line para a Dinamarca. E não era só o fato que eu provavelmente nunca mais a veria, mas a forma como ela estava reagindo a tudo, parecia até animada. Talvez para mim era a perda da minha melhor amiga, mas para ela, que já tinha viajado o mundo e morado em diversas cidades, eu era só a amiga da ocasião.

Ainda teríamos uma última aventura juntas antes do fim do semestre: a tão aguardada última cervejada do ano, uma festa à fantasia que prometia ser épica. Eu e a Line decidimos que iríamos combinando, claro — mas, como sempre, chegar a um acordo foi uma batalha.

Ela queria algo grotesco, como irmos de zumbis em decomposição ou monstros do pântano cobertos de gosma. “Imagina, Eli, a gente entrando na pista pingando sangue falso, todo mundo abrindo espaço!” dizia com aquele brilho animado no olhar.

Mas eu me recusava a passar a noite inteira fantasiada de nojeira ambulante. Disse que queria algo um pouco mais… bonito. Ou pelo menos limpo. Depois de muitas trocas, risadas, e chantagens emocionais (principalmente da parte dela), chegamos a um meio-termo: eu iria de cheerleader, com direito a sainha curta e pompons, e ela de Jason — máscara, facão de plástico e tudo.

"Combina perfeitamente," ela disse, rindo. "A vítima e o assassino. Duas faces da mesmo moeda."

No fim, deixei a Line ficar encarregada de comprar minha fantasia, o que foi um erro estratégico. Quando abri o pacote no dia anterior à festa, quase enfartei: a sainha era minúscula, tipo duas palmas de pano, e o top mais parecia um sutiã esportivo encolhido no sol. Os pompons vinham junto, claro, mas nem isso disfarçava o fato de que eu parecia pronta para um clipe de funk proibidão.

"Ah, Eli, ficou perfeita!", ela disse, orgulhosa, me girando na frente do espelho. “É uma cheerleader pós-apocalíptica, versão safadinha.”

Suspirei e aceitei o destino, porque no fim das contas... era a Line. Ela conseguia fazer até o ridículo parecer aceitável.

Na hora da festa, pegamos um carro de app e chegamos já rindo. Ela com a máscara do Jason pendurada no pescoço, facão de plástico em uma mão e latinha de cerveja na outra. Eu, tentando não congelar com a fantasia mínima e andar sem tropeçar na minha própria vergonha.

Dançamos juntas no meio da pista, esbarrando em fantasias de piratas, diabinhas, anjos decadentes e um Bob Esponja claramente muito bêbado. 

Line não me dava um segundo de descanso. “Vira esse shot, cheerleader!” gritava no meu ouvido, já empurrando mais uma dose de tequila na minha mão. Eu reclamava, ela ria, e no fim, claro, eu virava.

Foi numa dessas voltas pela festa, com a cabeça começando a rodar e os pés meio fora do eixo, que dei de cara com o André — meu peguete habitual das festas da faculdade. Toda cervejada a gente seguia quase um ritual: depois de beber, dançar, rodar por todos os grupos e enjoar da bagunça, a gente se encontrava como se fosse por acaso, ia para algum canto mais tranquilo e passava o resto da noite se beijando.

Na época, eu era tão bobinha que achava aquilo o auge da intimidade. A gente se beijava por horas, e depois, cada um voltava para sua casa. Nem transar a gente tinha transado. 

Não era nem por vergonha ou medo — acho que eu nem pensava nisso como uma possibilidade real. Eu era tão inocente que achava que só de dividir aquele momento já bastava, como se o beijo fosse o prêmio final, não o começo de nada. E talvez o André, com aquele jeito certinho, acreditasse que estava fazendo a coisa certa ao não avançar nenhum sinal, como se tivesse me respeitando e me protegendo.

Não sei o que estava acontecendo — se era a quantidade absurda de bebida que a Line tinha me feito virar, se era o clima da festa, ou se havia mesmo algo diferente no jeito que o André me tocava naquela noite — mas meu corpo parecia pegar fogo. Os beijos estavam mais intensos, menos inocentes, como se todo aquele ritual que a gente fazia há meses estivesse finalmente evoluindo para alguma coisa que eu ainda não sabia nomear.

O toque dele provocava arrepios, e cada vez que ele se aproximava mais, meu coração batia tão forte que parecia ecoar dentro do meu crânio. Estávamos encostados em uma parede mais escura, meio escondidos do agito da pista, e pela primeira vez eu me peguei pensando que talvez, só talvez, quisesse mais do que só os beijos.

Foi quando senti um empurrão nas costas. Tropecei um passo para frente e, ao me virar, vi o André caído no chão, tentando se apoiar nos cotovelos com uma expressão de dor e confusão no rosto.

Demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo.

Ali, parados à minha frente, com os mesmos sorrisos debochados daquela noite, estavam dois dos moleques do parque, vestidos e agindo como homens das cavernas. Um deles apontou para o André com o queixo e disse, sem nem disfarçar o tom de ameaça: “Pode vazar, playboy. Agora é a nossa vez de brincar.”

Capítulo 4


Juro, parecia que eu tinha atravessado o espelho e estava num mundo que eu não conhecia ou entendia. Não dava para acreditar que aqueles moleques do parque tinha adicionando eu e a Line no Instagram e estavam reagindo no nossos stories, puxando papo.

Fora que a minha amiga estava contando para todo mundo da faculdade o que tinha acontecido com a gente no parque. Se gabava como tinha “negociado” uma punheta ao invés de chupar os caras. 

Me peguei, um dia, até mesmo rindo da forma exagerada e divertida que Line contava a história como se fosse uma grande aventura cheia de percalços, mas que tudo tinha ficado bem no final. 

Quando estava lá no parque, achei que tudo aquilo teria um impacto irrecuperável na minha vida, mas a forma que minha amiga via sua própria história, deixava as coisas tão simples, que eu me permiti perguntar se aquilo tudo era uma questão de escolha.

A coisa que mais estava me fazendo sofrer, na verdade, era a volta da Line para a Dinamarca. E não era só o fato que eu provavelmente nunca mais a veria, mas a forma como ela estava reagindo a tudo, parecia até animada. Talvez para mim era a perda da minha melhor amiga, mas para ela, que já tinha viajado o mundo e morado em diversas cidades, eu era só a amiga da ocasião.

Ainda teríamos uma última aventura juntas antes do fim do semestre: a tão aguardada última cervejada do ano, uma festa à fantasia que prometia ser épica. Eu e a Line decidimos que iríamos combinando, claro — mas, como sempre, chegar a um acordo foi uma batalha.

Ela queria algo grotesco, como irmos de zumbis em decomposição ou monstros do pântano cobertos de gosma. “Imagina, Eli, a gente entrando na pista pingando sangue falso, todo mundo abrindo espaço!” dizia com aquele brilho animado no olhar.

Mas eu me recusava a passar a noite inteira fantasiada de nojeira ambulante. Disse que queria algo um pouco mais… bonito. Ou pelo menos limpo. Depois de muitas trocas, risadas, e chantagens emocionais (principalmente da parte dela), chegamos a um meio-termo: eu iria de cheerleader, com direito a sainha curta e pompons, e ela de Jason — máscara, facão de plástico e tudo.

"Combina perfeitamente," ela disse, rindo. "A vítima e o assassino. Duas faces da mesmo moeda."

No fim, deixei a Line ficar encarregada de comprar minha fantasia, o que foi um erro estratégico. Quando abri o pacote no dia anterior à festa, quase enfartei: a sainha era minúscula, tipo duas palmas de pano, e o top mais parecia um sutiã esportivo encolhido no sol. Os pompons vinham junto, claro, mas nem isso disfarçava o fato de que eu parecia pronta para um clipe de funk proibidão.

"Ah, Eli, ficou perfeita!", ela disse, orgulhosa, me girando na frente do espelho. “É uma cheerleader pós-apocalíptica, versão safadinha.”

Suspirei e aceitei o destino, porque no fim das contas... era a Line. Ela conseguia fazer até o ridículo parecer aceitável.

Na hora da festa, pegamos um carro de app e chegamos já rindo. Ela com a máscara do Jason pendurada no pescoço, facão de plástico em uma mão e latinha de cerveja na outra. Eu, tentando não congelar com a fantasia mínima e andar sem tropeçar na minha própria vergonha.

Dançamos juntas no meio da pista, esbarrando em fantasias de piratas, diabinhas, anjos decadentes e um Bob Esponja claramente muito bêbado. 

Line não me dava um segundo de descanso. “Vira esse shot, cheerleader!” gritava no meu ouvido, já empurrando mais uma dose de tequila na minha mão. Eu reclamava, ela ria, e no fim, claro, eu virava.

Foi numa dessas voltas pela festa, com a cabeça começando a rodar e os pés meio fora do eixo, que dei de cara com o André — meu peguete habitual das festas da faculdade. Toda cervejada a gente seguia quase um ritual: depois de beber, dançar, rodar por todos os grupos e enjoar da bagunça, a gente se encontrava como se fosse por acaso, ia para algum canto mais tranquilo e passava o resto da noite se beijando.

Na época, eu era tão bobinha que achava aquilo o auge da intimidade. A gente se beijava por horas, e depois, cada um voltava para sua casa. Nem transar a gente tinha transado. 

Não era nem por vergonha ou medo — acho que eu nem pensava nisso como uma possibilidade real. Eu era tão inocente que achava que só de dividir aquele momento já bastava, como se o beijo fosse o prêmio final, não o começo de nada. E talvez o André, com aquele jeito certinho, acreditasse que estava fazendo a coisa certa ao não avançar nenhum sinal, como se tivesse me respeitando e me protegendo.

Não sei o que estava acontecendo — se era a quantidade absurda de bebida que a Line tinha me feito virar, se era o clima da festa, ou se havia mesmo algo diferente no jeito que o André me tocava naquela noite — mas meu corpo parecia pegar fogo. Os beijos estavam mais intensos, menos inocentes, como se todo aquele ritual que a gente fazia há meses estivesse finalmente evoluindo para alguma coisa que eu ainda não sabia nomear.

O toque dele provocava arrepios, e cada vez que ele se aproximava mais, meu coração batia tão forte que parecia ecoar dentro do meu crânio. Estávamos encostados em uma parede mais escura, meio escondidos do agito da pista, e pela primeira vez eu me peguei pensando que talvez, só talvez, quisesse mais do que só os beijos.

Foi quando senti um empurrão nas costas. Tropecei um passo para frente e, ao me virar, vi o André caído no chão, tentando se apoiar nos cotovelos com uma expressão de dor e confusão no rosto.

Demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo.

Ali, parados à minha frente, com os mesmos sorrisos debochados daquela noite, estavam dois dos moleques do parque, vestidos e agindo como homens das cavernas. Um deles apontou para o André com o queixo e disse, sem nem disfarçar o tom de ameaça: “Pode vazar, playboy. Agora é a nossa vez de brincar.”


Capítulo 5


Antes que eu conseguisse pensar em qualquer reação, senti a boca de um deles no meu pescoço, e, logo em seguida, o outro fazendo o mesmo do outro lado. Estavam me pressionando contra a parede, me esmagando entre os corpos deles, os paus deles roçando em mim.

Sei que devia ter gritado, empurrado, feito qualquer coisa, mas naquele momento tudo parecia embaçado, como se eu estivesse dentro de um sonho ruim do qual não conseguia acordar. Só me lembro de fechar os olhos e murmurar algo que nem sei se ouviram. Era como se a tequila tivesse transformado meus ossos em gelatina.

Quando senti uma das mãos tentando entrar por baixo da minha saia, minha voz finalmente saiu.

“Para, por favor.” 

Meu pedido não teve efeito algum nos dois. Senti só o indicador dele, passando a na minha calcinha já encharcada. O calor estava me consumindo, e eu tentava me manter focada para não ser comida por dois caras na frente de todo mundo da faculdade. 

“Aqui não, por favor.”, disse, pegando uma página do livro de negociação da Line emprestada. Se não dava para conseguir tudo que eu queria, o jeito era achar um meio termo onde eu não saía tão mal.

Eles me guiaram pelo meio da festa, cada um segurando uma das minhas mãos, com eu morrendo de vergonha, sentindo que todas as pessoas estavam me observando e sabiam exatamente o que eu ia fazer. 

No caminho, vi a Line dançando que nem uma louca na pista. Tive vontade de gritar e pedir ajuda para ela, mas ela nunca que me escutaria na barulheira que era aquele negócio.

Entramos no banheiro masculino, onde eu vi uma ou outra cara conhecida, embora acho que nenhum amigo meu de verdade estava lá. Eles expulsaram um cara que tava mijando na cabine de deficiente físicos, me empurraram para dentro e trancaram a porta atrás de nós. O espaço, apesar de ser maior que os outros, ainda assim parecia pequeno demais para os três. O ar cheirava a urina e desinfetante barato. Eu queria sumir dali.

“O que vocês querem que eu faça?”, perguntei, tentando acabar logo com aquilo, embora para eles talvez tenha soado como se eu estivesse me submetendo a tudo que acontecia.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, um deles me puxou pela cintura, colando o corpo no meu. O outro tomou meus lábios num beijo forçado, úmido, como se eu fosse apenas mais uma parte da festa. O outro me abraçou por trás, e ficou roçando seu pau na minha bunda, como se aquilo fosse inevitável.

Minha mente gritava, mas minha boca estava muda.

Não sei se era a bebida, o calor, a vergonha ou o medo — talvez tudo ao mesmo tempo — mas, por alguns segundos, meu corpo não reagia como eu queria. Senti o que estava atrás abaixando a calça, e o toque do membro dele no tecido da minha calcinha, me fizeram gemer, e mesmo enquanto eu pensava “não”.

O da frente colocou a mão nas minhas costas, tentando fazer com que eu me abaixasse. Desesperada, pensei no que Line faria naquela situação, e curvei meu corpo, para alcançar minha mão dentro das calças dele. Pelo menos, assim não teria que colocar minha boca naquela coisa imunda, e ele parecia satisfeito com a punheta.

Senti o de trás puxando minha calcinha para o lado. Apenas fechei os olhos, mesmo se quisesse reagir, o que eu não tinha certeza se queria, não ia ter o que fazer naquela situação. Ele entrou de uma vez só, e eu senti o calor aumentar ainda mais, como se fosse entrar em combustão ali mesmo, vestida de cheerleader, no banheiro de deficiente de uma festa da faculdade.

Segurando meu quadril, ele metia sem nenhuma dó, virando tapas no meu bumbum e me xingando, sem se importar que estávamos em um lugar público. Olhei para o biombo do banheiro e tinha celulares e pessoas assistindo ao show. Meio envergonhada, meio possuída pelo tesão, resolvi dar tudo de mim, rebolando no pau daquele desgraçado, para ver se ele gozava mais rápido e tudo acabava.

Sendo comida daquele jeito, não conseguia dar nenhuma atenção para o que estava na frente, que tentava de todo jeito colocar o pau na minha boca. Era uma luta, um ataque contra a defesa, e sabia que se não fizesse algo rápido, ele ia ter o que queria.

Para minha sorte, o que estava atrás finalmente se deu por satisfeito, tirou o pau de dentro de mim, e, após se masturbar por alguns segundos, soltou sua gosma nojenta na minha sainha. Ufa, agora só faltava um para eu me ver livre daquele pesadelo.

“Vem, me come também”, disse com a voz rouca, tentando ser o mais sexy possível, para ver se ele parava de esfregar e bater com o pau na minha cara. Ele respondeu com tapinha de leve no meu rosto, embora bem ardido, mostrando que não tinha aceitado a minha proposta.

Ele colocou as duas mãos atrás da minha cabeça e começou a movimentar o quadril. Sem ter o que fazer e só querendo acabar com tudo aquilo o mais rápido que dava, abri a boca e deixei que ele me usasse. 

Eu que nunca tinha chupado alguém antes na vida, agora tinha que aguentar aquele filho da puta metendo loucamente na minha boca, como se ele não soubesse nada sobre a anatomia humana. Na hora não senti nenhuma dor, acho que estava com tanto medo que meu corpo me anestesiou.

Ele começou a ir mais rápido e a gemer cada vez mais alto. A única coisa que consegui fazer para tentar manter o mínimo de dignidade foi me desvencilhar um pouco dele para pedir: “Avisa quando for gozar.”

Mas é óbvio que isso não estava nos planos dele. Não tinha porque ele respeitar algum desejo meu, sendo que até então ele tinha tido tudo que queria. Quando chegou ao clímax, ele só segurou minha cabeça com força para que eu não me mexesse, e soltou tudo direto na minha garganta, me dando muita ânsia.

Missão estava concluída, saí correndo dali, e sem nem me limpar pedi um Uber para ir para casa.


Capítulo 6


“Quer assistir Jogos Mortais?”, foi o convite que a Line me fez, dois dias antes de ir embora. Do jeito que ela era, eu imaginei que faria um verdadeiro carnaval — várias festas de despedida, encontrando todo mundo da faculdade, ainda mais agora que as provas tinham acabado.

Não era fã de filme de terror, mas agradeci por não ter que encarar ninguém da faculdade. Eu estava morrendo de vergonha do que tinha acontecido na festa, e com medo da repercussão. Mas isso era um problema pra Elisa do ano que vem, não pra mim.

Às vezes eu achava que a Line estava evitando as festanças justamente pra me poupar. Talvez quisesse aproveitar o pouco tempo que restava só comigo, antes de voltar para Dinamarca. Era uma suposição boba, eu sei. Mas fazer o quê? Eu ficava assim pensando nela.

Cheguei no apartamento dela e mal tive tempo de bater na porta — ela já estava me esperando no hall, com um baita sorriso. O que me paralisou, no entanto, foi a roupa. Ela usava uma lingerie de vinil preto, brilhante como óleo. O top, justo, marcava cada curva, com correntes douradas que cruzavam o colo e se prendiam a uma coleira no pescoço. A parte de baixo era ainda mais ousada: uma calcinha fio com argolas nas laterais, de onde desciam ligas que balançavam conforme ela andava. 

“Que roupa é essa?“, consegui perguntar, a voz saindo meio presa na garganta.

Ela deu uma risadinha e se virou de costas, me puxando pela mão para entrar.

“Tô caçando”, respondeu, com um olhar por cima do ombro. “Dizem que rato adora coisa brilhante.”

Antes que eu pudesse entender se era uma piada ou uma metáfora que não entendi por não ser dinamarquesa, ela me levou até a sala, onde o laptop estava aberto. A tela piscava com uma gravação. Bastou um segundo para eu reconhecer os rostos: os quatro meninos do parque. Estavam ali, no quarto dela, rindo, jogando cartas, como se estivessem numa república.

“Eles… estiveram aqui?“, perguntei, com um aperto no estômago.

“Ainda estão. Trancadinhos, no quarto dos fundos.”

“Você… você transou com eles?“, perguntei, engolindo seco. Minha mente corria, tentando entender se aquilo era algum tipo de vingança, uma brincadeira cruel ou o início de algo muito mais estranho.

Line me olhou como se a pergunta fosse boba.

“ Não” respondeu, com um sorriso. “Falei pra eles esperarem até você chegar.”

“Você tá louca?” recuei um passo, sentindo meu corpo inteiro em alerta. Coração acelerado, mãos trêmulas. 

“Tô. Sempre fui. E faltam só dois dias“, ela disse, caminhando na minha direção com aquela calma assustadora, como se já soubesse que eu não ia sair dali.

Antes que eu pensasse em qualquer resposta, ela me puxou pela cintura e me beijou com uma intensidade que apagou tudo ao redor. Um beijo quente, firme, faminto. Me jogou no sofá como se o mundo fosse acabar ali mesmo.

Eu ainda estava confusa. Ainda apavorada. Mas aquele beijo… aquele beijo era a coisa mais gostosa do mundo. Meu corpo cedeu antes da minha mente entender o que estava acontecendo. E naquele instante, pela primeira vez em dias, eu me permiti esquecer o que tinha feito, o que os outros pensariam, o que viria depois.

Line passou a perna por cima de mim, sentando no meu colo com a confiança de quem já sabia a resposta.

“Vamos para o prato principal?“, sussurrou, deslizando os dedos pelo meu pescoço.

Assenti sem saber exatamente o que ela queria dizer. Meu corpo estava entregando tudo, mas minha cabeça ainda tentava acompanhar a lógica do que estava acontecendo.

Ela se levantou devagar e voltou até o laptop. Apertou uma tecla e, em seguida, falou com clareza, como se estivesse em uma videoconferência qualquer:

“Oi, meninos. Estão confortáveis?”

Ouvi uma movimentação abafada vindo do notebook. Uma voz respondeu, debochada, meio distante: “Ah, vem logo, garota. Para de graça. Hoje se vai chupar o meu pau piranha.”

Line inclinou a cabeça, divertida.

“Não precisa ter pressa. Mas sabe que me deu uma ideia maravilhosa? Vamos começar um jogo”, disse, enquanto mantinha o olhar fixo na tela. “Se quiserem sair daí... vão ter que seguir as regras.”

“Que regras, putinha?”, um deles respondeu, rindo alto, encorajado pelos outros. Ainda não tinham entendido que minha amiga não estava brincando.

Line sorriu como quem saboreia um segredo.

“Bom… como foi que vocês falaram com a gente mesmo?”, ela fez uma pausa teatral, como se estivesse tentando lembrar. “Ah, sim, tem que pagar a taxa, né? Pois bem. Se quiserem sair daí, vão ter que pagar a taxa.

As risadas cessaram de imediato. O clima mudou. Os quatro se entreolharam na tela, a expressão de deboche sumindo aos poucos, substituída por uma inquietação crescente.

“Cada um de vocês vai ter que tomar uma gozada na boca”, continuou Line, com a voz doce como veneno. “Do jeitinho que vocês queriam que a gente fizesse no parque. E só então eu abro a porta. Que tal?”

Houve um silêncio pesado do outro lado da câmera. Nenhum deles falou. O jogo, enfim, tinha começado. E dessa vez, era ela quem fazia as regras.
Capítulo 7
 Eu estava em choque por descobrir o quão psicopata era a minha amiga. 

Eles tentaram de tudo. Gritaram que iam nos matar, esmurraram a porta até machucar as mãos, imploraram, prometeram o mundo — mas Line permaneceu impassível. Nem piscava.

O máximo que ela fez foi pegar um frasco de álcool misturado com extrato de pimenta, abaixar-se diante da porta e borrifar pela fresta com a maior calma do mundo.

O efeito foi imediato. Começaram a tossir, gritar, se afastar da porta aos tropeços. O cheiro ardente invadiu o quarto, e o pânico tomou conta. Um deles chegou a chorar achando que era veneno, outro implorava dizendo que tinha asma. Line apenas observava, como se estivesse assistindo a uma peça de teatro particularmente boa.

E eu… eu estava ali, entre o choque e o fascínio. Porque, por mais insana que ela fosse, não dava pra negar: ver aquilo tudo acontecer era perversamente satisfatório.

Enquanto tudo isso rolava no quarto, com os gritos abafados e o cheiro ardente se espalhando pelo ar, Line caminhou até mim com a mesma tranquilidade de quem serve um café.

Sem dizer nada, se inclinou e me deu um selinho suave, quase inocente — o que só tornava tudo ainda mais insano. Depois, com os olhos fixos nos meus, começou a desfazer cada parte da minha roupa como se estivesse desembrulhando um presente.

Puxou devagar as alças do meu vestido, deixando o tecido deslizar pelos meus braços até cair no chão. Em seguida, desabotoou o sutiã com uma precisão. Eu não conseguia me mover, não por medo, mas porque meu corpo inteiro parecia suspenso no ar, esperando o próximo toque dela. Ela se ajoelhou no chão da sala, e puxou a minha calcinha para baixo, aos risos.

Devagarinho, a mão dela escorregou pela minha coxa, e eu tremia descontroladamente a cada passada de dedo. Ela percorria meu corpo como quem segue uma trilha já decorada, sem pressa, aproveitando cada curva, cada reação. Era metódica, quase cruel, como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo.

Quando o dedo dela finalmente entrou, um arrepio cortou minha espinha inteira. Minhas pernas cederam, frágeis, trêmulas, e precisei me apoiar nela para não desabar ali mesmo.

“A gente… pode ir pro sofá?”, pedi, quase sem fôlego.

Ela sorriu como se já estivesse esperando por isso, me guiando até lá com a mesma delicadeza com que me desmontava.

Deitei, e ela subiu em cima de mim, me beijando. O peso do corpo dela no meu, me fazia sentir segura, protegida… cheia de tesão. A mão dela continuou explorando lá embaixo, entrando e saindo, ora com o indicador, ora com o dedo médio.

Olhei para o laptop, e vi os meninos se chupando. Senti novamente o calor que me possuiu na festa tomar conta de mim. Talvez agora fossem as chamas da vingança. 

Parei de beijar a Line e perguntei: “Se eu pedir para você me chupar, você vai me prender num quarto e me torturar?”

Ela girou sobre mim e caiu no chão, rindo tanto que parecia ter perdido o ar. Gargalhou de um jeito descontrolado, com lágrimas escorrendo dos olhos. Aquela risada era tão genuína, tão viva, que por um momento o mundo lá fora deixou de existir.

Quando finalmente conseguiu recuperar o fôlego, se sentou no chão e me olhou nos olhos, ainda com um sorriso bobo no rosto.

“Não sei como vou viver sem te ver todo dia” disse, com uma sinceridade que fez meu peito doer.

Tive que conter a lágrima que ameaçava cair. O único motivo de não ter desabado ali mesmo foi porque Line foi mais rápida. Voltou para o sofá, se aninhou com a cabeça na minha cintura, e começou o melhor oral que eu já recebi na vida. Ali, com os corpos misturados, entre o riso e o caos, foi como nossa última noite no Brasil se encerrou.

Depois que os meninos terminaram o castigo que ela impôs, ela abriu a porta. Libertou os quatro, sem cerimônia, mas deixando bem claro que o vídeo estava salvo em vários lugares. Se tentassem qualquer coisa, todo mundo que eles conheciam receberia uma cópia.

Line voltou para a Europa. Foi como um corte seco, como acordar de um sonho que misturava desejo, loucura e uma amizade que beirava o impossível. A gente continuou se falando todos os dias por videochamada. Ríamos, brigávamos, lembramos da noite como se fosse um segredo precioso entre nós duas. 

Hoje, depois de muito esperar, finalmente meu visto foi aprovado. Para mudar para Dinamarca, Line, sempre prática e um pouco insana, apareceu com uma solução tão absurda quanto tudo que já tínhamos vivido juntas: casar comigo — num casamento de mentirinha — só para enganar a imigração.

Vou morar lá. Eu, Line… e o namorado dela. Mas essa é outra história.