O chefe da minha esposa destruiu minha vida
Capítulo 1
Antes dos trinta, eu já acumulava prêmios, estampava capas de revistas e atraía seguidores desconhecidos no LinkedIn, ávidos por acompanhar minha trajetória. Nem mesmo o mais visionário dos futuristas poderia prever no que minha vida se tornaria.
Mas agora, revivo o passado obsessivamente, tentando encontrar o instante exato em que tudo desmoronou. Vasculho cada detalhe, esperando uma resposta definitiva. Mas ela nunca vem.
Talvez tudo tenha começado com um oito.
Cursei engenharia de software. No meu trabalho de conclusão de curso, precisei desenvolver um projeto do zero. Dediquei-me obsessivamente, refinando cada detalhe, despejando ali cada grama do meu talento e sanidade. Quando finalmente o apresentei, ele já não era apenas um programa de computador. Era meu filho.
E então, veio a nota. Oito.
Fiquei puto.
— É um bom trabalho, mas falta viabilidade econômica. — Foi assim que o professor, com a delicadeza acadêmica de um martelo, me disse que meu projeto era apenas um passatempo sem futuro.
Não existe combustível melhor do que a vontade de provar que alguém está errado. E aquelas palavras do professor queimaram em mim como gasolina jogada no fogo.
Passei madrugadas aprimorando meu programa, obcecado em refinar cada linha de código, cada funcionalidade, cada detalhe. Não enviei um único currículo. Para quê? Minha confiança era inabalável. Enquanto meus colegas planejavam entrevistas e atualizavam seus perfis no LinkedIn, eu já estava abrindo minha própria empresa. Mesmo antes de terminar a faculdade.
E funcionou.
No primeiro ano, minha empresa não apenas sobreviveu — ela prosperou. Sentia como se tivesse decifrado o código secreto do sucesso, me comparando com tantos outros executivos que tiveram várias falências e fracassos antes de conseguir qualquer coisa. Eu não, logo na primeira tentativa já estava colhendo os frutos do meu trabalho.
E a empresa cresceu tanto, que, a certa altura, ficou evidente que eu não daria conta de tudo sozinho. Eu precisava de alguém para cuidar da parte comercial, alguém que soubesse vender tanto quanto eu sabia construir. Foi aí que Renato entrou na jogada.
Ele era persuasivo, carismático, exalava confiança. Fechava contratos com naturalidade e conquistava investidores como se estivesse vendendo a ideia mais óbvia do mundo. Parecia a peça que faltava para levar a empresa ainda mais longe.
Mas hoje, olhando para trás, me pergunto se o verdadeiro ponto de partida para tudo o que aconteceu não foi aquele oito — e sim ele, o meu sócio.
Apesar de contribuir com sua rede de contatos e habilidades, ele moldou uma cultura na empresa que fugia completamente do que eu havia imaginado.
O desgraçado tinha uma visão peculiar — e deturpada — de gestão de pessoas. Sempre que um currículo feminino caía na mesa dele, a entrevista era garantida, independentemente de quantos candidatos mais qualificados houvesse. Cada nova vaga virava um concurso de beleza, e Renato, o juiz, escolhia sempre a mais atraente, transformando a empresa, pouco a pouco, no seu harém particular.
Eu nunca aprovei o fato de meu sócio dormir com várias funcionárias. A sensação era de que, aos poucos, eu perdia o controle da empresa — como se fosse um filho crescendo e eu já não pudesse mais escolher suas influências.
Comecei a ter pesadelos. Sonhava que suas “conquistas” começavam a se assassinar no escritório. E depois do massacre, lá estava eu, tentando limpar o carpete empapado de sangue.
A única coisa que fiz para tentar mudar o rumo da empresa foi marcar uma reunião com Renato em um bar, depois do expediente. Quando compartilhei meus receios e mencionei os sonhos que andava tendo, esperando ao menos um vislumbre de desconforto, tudo o que recebi foi uma gargalhada.
— Você se preocupa demais.
Ele tomou um gole da cerveja e balançou a cabeça, como quem observa um ingênuo tentando entender as regras do mundo.
— Todo mundo aqui sabe como o jogo funciona.
O jogo.
Segundo ele, ninguém ali estava apaixonado de verdade. Nem elas. Nem ele. O que queriam não era Renato — era o que ele podia oferecer. Um cargo melhor, uma fatia da empresa, um atalho para uma vida mais confortável.
E o jogo tinha regras claras. Nada de crises de ciúmes, nada de escândalos, nada de exigências. Quem quisesse exclusividade estava fora.
Não só ele descartou todas as minhas preocupações, que depois de “resolvido a situação”, Renato ainda quis me mostrar a mais nova conquista dele. A nova estagiária era ruiva. Cheia de tatuagens. Pelo menos uma década mais nova que ele. Mal tinha começado a trabalhar e já andava de carona no carro dele.
Pegou o celular, abriu um vídeo e deu play.
Ela estava ajoelhada entre as pernas dele, olhando diretamente para a câmera com um sorriso provocante.
— Diz aí, mano… Não é uma obra de arte?
Ele riu, satisfeito, enquanto aumentava o volume.
Eu ri também. Não porque achava engraçado. Ri porque não sabia como reagir.
O que se diz numa situação dessas? Finjo indiferença? Dou os parabéns? Pergunto se ele não tem medo de isso vazar?
A verdade é que éramos como óleo e água. Enquanto Renato usava o sucesso da empresa para impulsionar sua vida amorosa, eu nunca tinha sequer namorado.
Meus pais sempre estranharam o fato de eu nunca ter apresentado uma namorada. Em algum momento, suspeitaram que eu fosse gay ou que tivesse algum problema físico. Mas a realidade era bem menos interessante.
Interesse pelo sexo oposto nunca me faltou. O problema é que nunca foi recíproco. E era fácil entender o porquê.
Eu não tinha nada a oferecer.
Não era bonito, nem confiante, nem carismático. Não sabia flertar, não tinha presença, não exalava aquela energia magnética que faz uma mulher parar e prestar atenção. Sem isso, eu era praticamente invisível.
Com o tempo, aceitei que minha vida seguiria um caminho diferente. O que me restava era focar no trabalho, me afundar no meu próprio mundo e fingir que o sexo oposto não existia. Não por escolha, mas por exclusão.
Basicamente, uma versão masculina da velha dos gatos.
Minha vida jamais se pareceria com aquela loucura que era a do meu sócio, que equilibrava múltiplas mulheres como um malabarista experiente. E, por mais que sua conduta me horrorizasse, havia momentos em que eu não conseguia deixar de admirar sua habilidade em navegar aquele caos.
Mas nada — nada — se comparou ao que testemunhei na festa de fim de ano da empresa.
Alugamos um sítio com piscina e churrasqueira. O clima era descontraído e as conversas se tornavam mais soltas conforme o álcool circulava. Era para ser apenas uma confraternização, um dia tranquilo para celebrar mais um ano de sucesso.
Então, Renato decidiu transformar aquilo em um de seus espetáculos.
No meio da bebedeira e das risadas, lá estava ele, dentro da piscina, conversando com duas mulheres. Uma delas era uma de suas habituais. A outra, uma loira casada, recém-contratada, que tinha uma semana de empresa.
Fui até a mesa buscar uma cerveja e, quando olhei de volta, ele já levava as duas pela mão para o banheiro. Ninguém estranhou.
Pelo contrário — quando os gemidos começaram a vazar pela porta mal fechada, os funcionários se juntaram por perto, rindo, trocando apostas, assistindo ao desenrolar da cena como se fosse parte da festa.
E eu, parado ali no canto, me perguntava o que era mais absurdo: o espetáculo em si ou o fato de, por um breve instante, me imaginar no lugar dele.
Capítulo 2
O estilo de vida de Renato me parecia tão distante quanto um planeta habitado por uma espécie exótica. Algo fascinante e completamente fora do meu alcance.
Mas o sucesso da empresa mudou tudo.
De repente, as mesmas mulheres que antes me tratavam como se eu fosse invisível passaram a me enxergar. Pequenos gestos começaram a se acumular — olhares prolongados, toques casuais, risadas exageradas em piadas que nem eram engraçadas.
Todo dia saem de casa um malandro e um otário. Se os dois se encontram, sai negócio.
E naquela época, eu era o Santo Graal dos malandros. Ou, mais especificamente, das malandras. E foi exatamente nessa época que Carla entrou na minha vida.
Carla foi uma das campeãs nos concursos de beleza promovidos por Renato e acabou contratada como estagiária de marketing. Mas sua função real era quase irrelevante. Na prática, ela era a joia da coroa do harém do meu sócio lunático. Nenhuma das funcionárias mais experientes tinha a menor chance ao seu lado. Ela eclipsava todas sem esforço.
Carla não apenas chamava atenção — ela a comandava.
Quando saíamos para almoçar, eu me pegava genuinamente preocupado com a possibilidade de algum acidente acontecer. Ela tinha um magnetismo absurdo. Algo que fazia as pessoas pararem no meio do que estavam fazendo apenas para vê-la passar.
Motoqueiros esqueciam dos carros ao redor. Operários largavam as ferramentas e paravam de prestar atenção nas máquinas perigosas. Pedestres atravessavam a rua hipnotizados, ignorando completamente o tráfego.
Como se ela fosse um fenômeno astronômico raro, algo que ninguém podia se dar ao luxo de perder. Sério, a moça representava um risco à segurança pública.
Carla era magra e baixinha, com olhos azuis intensos e cabelos escuros na altura dos ombros. Sua pele era clara, os lábios cheios, e um olhar atento de uma menina jovem.
Mas o que mais chamava atenção não era seu rosto. Eram suas proporções desproporcionais. Para alguém do seu tamanho, seios e bumbum não deveriam ser daquele jeito. Criavam um contraste quase irreal. Um desafio direto às leis da física.
E apesar de sua aparência ser impressionante, não contava toda a história do porquê dela ser irresistível.
Ela tinha uma expressão mutável, um rosto que contava histórias sem precisar de palavras. Às vezes, exibia um sorriso largo, os olhos azuis bem abertos, iluminados, convidativos, transmitindo uma falsa inocência que desarmava qualquer um sem esforço. Outras vezes, sua expressão mudava completamente. O olhar se estreitava, tornava-se calculista, avaliador, como se estivesse à espreita, observando tudo com a paciência de um felino antes do bote.
Esse contraste a tornava imprevisível. E talvez isso que a tornasse intimidadora. Mesmo sendo apenas uma estagiária e eu o CEO da empresa, havia momentos em que eu não sabia como agir perto dela.
E acho que não era só eu que me sentia assim. A chegada de Carla desestabilizou completamente o ambiente da empresa. A produtividade masculina despencou.
Um dos nossos melhores especialistas — um sujeito calvo, casado, com filhos — passava o dia orbitando a mesa dela, inventando desculpas esfarrapadas para conversar. Parecia um adolescente deslumbrado. Honestamente, eu já esperava o momento em que ela entraria com uma queixa no RH.
Renato perdeu totalmente a linha. Ele largou todas as suas responsabilidades para se tornar o "tutor" pessoal da nova estagiária, aproveitando cada oportunidade para flertar sob o pretexto de orientação profissional.
E foi aí que ele conheceu uma resistência que nunca tinha enfrentado antes. Ela entrava na brincadeira, ria das investidas, mantinha o flerte vivo, mas nunca cedia completamente. Dava corda, mas nunca o suficiente para que ele a puxasse para perto. E esse equilíbrio instável começou a corroer a paciência de Renato.
O homem que sempre teve um rodízio constante de mulheres ao seu redor de repente parecia focado em um único objetivo: dobrar Carla.
Meu sócio se jogava no sofá da minha sala como se estivesse em uma sessão de terapia, repetindo o mesmo desabafo frustrado:
— Por que a Carla não cai na minha rede como todas as outras?
No começo, ele falava com um tom descontraído, como quem encara um desafio interessante. Mas, com o tempo, a obsessão tomou conta.
A rejeição dela — ou melhor, a maneira calculada como ela o mantinha perto, mas nunca o suficiente — começou a mexer com a cabeça dele de um jeito que eu nunca tinha visto antes. Ele passou a agir como se estivesse lidando com um caso sério, uma questão de honra.
E, um dia, soltou a frase que me fez perceber o quanto ele já estava fora da realidade:
— Ela não é só mais uma. Carla é a mulher da minha vida.
Determinado a finalmente conquistá-la, Renato armou um plano. Convocou Carla para representar a empresa em um evento importante, garantindo que ela fosse a responsável pelo estande da nossa marca. Tudo estrategicamente planejado. Um pretexto profissional perfeito para viajarem sozinhos.
Sem distrações. Sem concorrência. Era a grande chance dele.
Mas o destino parece amar a ironia. Na véspera da viagem, Renato ficou tão doente que teve que ser internado.
A feira, no entanto, não podia ser cancelada. Além do evento, havia uma reunião crucial com investidores. Alguém precisava ir.
Sem qualquer planejamento ou intenção, me vi exatamente onde Renato queria estar: sozinho, viajando com Carla.
Capítulo 3
Eu me sentia um completo imbecil.
Era o CEO de uma empresa em ascensão, prestes a participar de uma reunião crucial marcada para garantir investimentos milionários.
E, em vez de estar focado nisso, o que realmente me deixava tenso era que eu viajaria sozinho com a estagiária.
Além de absurdo, era uma hipocrisia enorme da minha parte. Sempre critiquei Renato por se envolver com mulheres da empresa e bem mais novas que eles. E agora, aqui estava eu. Inquieto com a ideia de passar dias ao lado de Carla. Preso na armadilha que meu sócio havia criado.
Carla, por outro lado, parecia radiante com a viagem. Empolgada, como se estivéssemos indo para um festival e não para um evento corporativo. Durante o voo, se manteve brincalhona e despreocupada, fazendo piadas sobre como Renato deveria estar se remoendo de inveja naquele momento.
Sempre que ela falava, seus olhos brilhavam com uma energia leve e espontânea, aquele jeito descomplicado que fazia com que o mundo se moldasse à sua vontade. Aos poucos, sem perceber, essa leveza começou a me desarmar.
Por um instante, toda aquela mística que a cercava — a mulher inalcançável, a obsessão coletiva do escritório, o sonho impossível de tantos — parecia apenas uma ilusão. Ali, ao meu lado, ela não era um fenômeno astronômico. Não era um jogo. Não era um mistério indecifrável.
Era só Carla. Rindo das próprias piadas. Cutucando meu braço para me mostrar alguma besteira no celular. E uma ideia perigosa começou a se formar na minha cabeça: talvez, para mim, ela não fosse tão inacessível assim.
Como o evento só começaria no dia seguinte, resolvi convidá-la para jantar. Depois de horas de viagem e sem nada para fazer além de esperar pelo dia seguinte, parecia natural sair para comer algo decente fora do hotel.
Não existiam segundas intenções. Ou, pelo menos, era isso que tentei me convencer.
Escolhi um restaurante sofisticado, inconscientemente recorrendo ao único trunfo que eu achava que poderia me colocar no mesmo jogo que os outros homens que orbitavam Carla: minha posição social.
Esperei na recepção do hotel enquanto Carla tomava banho e se trocava para o jantar. Tentei me distrair no celular, conferir e-mails, revisar mentalmente os pontos da reunião do dia seguinte — qualquer coisa para manter a cabeça no lugar.
Mas nada me preparou para o momento em que ela apareceu. O vestido preto, justo e curto abraçava seu corpo, destacando ainda mais aquela mulher linda.
Enquanto ela se aproximava, eu já sabia que, acontecesse o que acontecesse naquela viagem, só aquela imagem já teria valido a pena.
Durante o jantar, tentei manter a conversa em um terreno seguro. Perguntei se ela estava gostando de trabalhar na empresa, se pretendia seguir na área de marketing — como se fosse uma entrevista de emprego.
Carla parecia alheia ao interrogatório. O olhar dela vagava pelo restaurante, distraído. Brincava com um guardanapo entre os dedos, não realmente presente na conversa. Não sabia dizer se ela estava apenas cansada da viagem ou simplesmente entediada com o meu papo.
— E quais são os seus planos para o futuro? — perguntei, tentando manter a conversa fluindo.
— Sei lá. — Carla deu de ombros, soltando uma risada leve. — Acabei de me mudar do interior para a cidade com meu namorado. A gente ainda tá decidindo o agora antes de pensar no futuro.
Meu garfo parou no meio do caminho.
Namorado?
Tentei disfarçar a surpresa, mantendo a expressão neutra, mas minha mente já estava rebobinando cada segundo da viagem.
O flerte casual. Os sorrisos provocativos. Os olhares demorados. As brincadeiras que pareciam cheias de segundas intenções. O tempo todo, eu tinha interpretado aquilo como uma possibilidade real.
Mas não. Carla não estava tentando me seduzir. Ela apenas jogava porque gostava do jogo. E eu, feito um idiota, tinha passado o dia inteiro me convencendo de que havia algo ali.
Ficou claro por que nem Renato, nem ninguém, tinha conseguido transpor aquela barreira. Ela só era uma viciada em atenção.
Fiquei puto. Minha vontade era simplesmente encerrar o jantar ali mesmo e dar um fim àquela situação ridícula.
Mas por quê?
Ela não me devia nada. Não tinha me prometido nada. Eu era apenas o CEO da empresa onde ela estagiava.
Por que diabos eu me sentia iludido?
Eu tentava manter a compostura, agir como se nada tivesse acontecido, mas minha tentativa de indiferença só deixava tudo mais evidente. Fiquei mais rígido, minhas respostas mais curtas, e o tom da conversa voltou a ser estritamente profissional.
Carla não era burra. Ela percebeu que algo em mim mudou.
Ela sorriu para mim. Não um sorriso qualquer, mas um daqueles dela — um sorriso que carregava um segredo.
Terminamos o jantar sem grandes conversas, e voltamos para o hotel em silêncio. No corredor, nos encaramos por um segundo a mais do que o necessário.
— Boa noite — ela disse, a voz doce, casual.
— Boa noite — respondi.
Fui para o quarto e fechei a porta atrás de mim e soltei um suspiro longo. Joguei a carteira sobre a mesa, tirei a camisa, fui direto para o banho. A água quente ajudou a aliviar um pouco o peso da frustração que eu nem deveria estar sentindo. Quando saí, enxuguei o rosto, me olhei no espelho. Era ridículo.
Já de cueca, pronto para dormir, me joguei na cama, determinado a enterrar aquele dia.
Então ouvi.
Três batidas suaves na porta.
Meu corpo congelou no mesmo instante.
Era Carla.
Capítulo 4
Vesti o roupão às pressas e abri a porta. Carla estava ali, parada no corredor, me encarando com um olhar indecifrável.
Esperei que dissesse algo, mas ela permaneceu em silêncio, apenas me observando, como se esperasse que eu entendesse sem precisar de palavras.
O impasse se alongou mais do que eu gostaria de admitir. Meu coração batia forte no peito, mas meu rosto tentava manter a neutralidade.
Dei um passo para o lado, abrindo espaço para ela entrar.
Carla caminhou pelo quarto sem pressa e sentou-se na beira da cama. Olhava ao redor com um ar despreocupado, balançando as pernas lentamente. Eu, por outro lado, continuei de pé, imóvel, tentando decifrar suas intenções.
O silêncio entre nós se tornou pesado, carregado de expectativas não ditas. Então, a pergunta escapou antes que eu pudesse evitar:
— E o seu namorado?
Ela parou de balançar as pernas e soltou um suspiro exagerado, levando a mão à testa, como se não acreditasse que aquilo era o que estava me preocupando.
Em seguida, levantou-se lentamente. Seus olhos fixaram-se nos meus enquanto ela caminhava na minha direção, seu perfume ficando mais intenso conforme a distância entre nós diminuía. O único som no quarto era o eco ritmado de seus saltos batendo contra o piso.
Ela parou à minha frente, tão perto que pude sentir seu calor. Seus dedos deslizaram pelo tecido do meu roupão, desfazendo o nó com um gesto suave. O tecido escorregou dos meus ombros e caiu no chão, deixando-me vulnerável.
Carla baixou os olhos por um instante, analisando meu corpo. Ao perceber meu estado, soltou uma risada baixa, mordendo o lábio como se confirmasse algo que já sabia.
Então, ergueu o rosto de volta para mim, e um sorriso brincou no canto de seus lábios — não de surpresa, nem de timidez, mas de puro domínio da situação.
Ela sabia o efeito que tinha sobre mim.
Toda a tensão acumulada entre nós ao longo do dia explodiu naquele instante. Minha mente, que até então tentava entender, racionalizar e buscar alguma lógica para aquilo, simplesmente desligou. Nada mais importava.
Minhas mãos deslizaram por sua cintura, puxando-a para mais perto. Finalmente, juntei coragem o suficiente para beijá-la.
Carla segurou minha mão e me guiou até a beira da cama. Depois que sentei, ela me encarou profundamente com seus olhos azuis, e com um rebolado desajeitado, deslizou a calcinha pelas pernas.
— E a camisinha? — Minha voz saiu tensa, como se meu cérebro buscasse qualquer desculpa para fugir daquele momento.
Carla ergueu as sobrancelhas, surpresa com a minha pergunta, e depois levou a mão à boca, abafando uma risada. Havia algo perversamente divertido naquela pergunta para ela.
Novamente, ela não disse nada. Apenas montou sobre mim, me empurrando suavemente para trás na cama. Seus lábios percorreram minha pele, cada toque dissolvendo qualquer resquício de hesitação que ainda restava.
Segurando meus braços contra o colchão, Carla me mantinha imóvel, completamente à mercê do ritmo que ela ditava. Sua respiração ficava cada vez mais pesada, os dedos apertavam meus pulsos com firmeza, enquanto seus quadris escorregavam sobre mim, me lubrificando e preparando o terreno para a próxima etapa da nossa relação.
Carla ajustou seu corpo e trocou o controle de minhas mãos para apenas uma, libertando sua outra mão para explorar, sem permitir que eu pudesse resistir. Seus dedos deslizaram, até sua mão encontrar e envolver o meu sexo. Roçou a ponta contra si, brincando, prolongando o tormento antes de, finalmente, me tomar por inteiro.
Minha respiração falhou. Um gemido escapou da minha boca. Alto demais. O riso silencioso dela contra mim me deixou envergonhado.
Não era só a intensidade do momento — era o absurdo de quão quente, molhada e apertada ela era. E, enquanto ela subia e descia, algo se tornou dolorosamente claro para mim: até essa parte do seu corpo era perfeita.
Cada deslizar, cada rebolado, cada curva do seu corpo pressionando contra o meu, tornava impossível ignorar quem estava no comando. Ela cavalgava com uma confiança que me fazia esquecer quem eu era, onde estava, o que era certo ou errado.
Eu ia passar o maior vexame da minha vida. Não tinha dado nem um minuto, e estava prestes a gozar.
Minha sorte foi que Carla percebeu e diminuiu o ritmo. Seus dedos, antes firmes me prendendo contra o colchão, agora deslizavam suavemente pelo meu peito, massageando meus ombros com um toque que parecia tanto um agrado quanto um incentivo.
Aproveitei o momento para recuperar o fôlego. Realizei o meu maior sonho e agarrei seus seios, como se examinasse. Eles eram pesados e firmes. Acompanhando o ritmo dos movimentos dela, eu a tocava, sentindo a pele quente sob meus dedos. Carla arqueou as costas de leve, um arrepio percorreu sua espinha, enquanto ela soltava um gemido.
— Pronto para mais? — Sua voz veio rouca, falando suas primeiras palavras desde que entrou no quarto.
Eu só consegui balançar a cabeça, incapaz de responder.
Carla sorriu, já sabendo a resposta antes mesmo de perguntar. Deslizou para o lado, girando sobre meu corpo antes de cair de bruços na cama. Me levantei e meu olhar percorreu suas costas nuas, descendo até seu quadril, perfeitamente arqueadas, como se ela o oferecesse para mim.
Meu desejo reacendeu no mesmo instante.
Ela esticou os braços à frente, empinando o bumbum. Então, lançou a isca com sua voz rouca:
— Vem, me come de quatro.
Me ajoelhei atrás dela, segurando sua cintura, e lentamente comecei a me mover, buscando o ritmo certo.
A sensação de estar ali, naquela posição, com Carla se entregando de forma tão natural, fazia meu autocontrole desmoronar a cada estocada.
Carla mordia o lençol, abafando os gemidos que escapavam a cada investida. A visão dela entregue, se contorcendo de prazer, era um espetáculo privado, um show particular apenas para mim.
Eu me sentia outra pessoa. Todas as dúvidas que tive desapareceram.
Foda-se se era certo e errado. Eu estava comendo a estagiária da empresa. E estava prestes a gozar na bunda redondinha dela.
Saí de dentro dela, me masturbando com meu pau o mais próximo que conseguia daquela bunda perfeita. Meu corpo inteiro se contraiu e então veio — o gozo mais intenso da minha vida. A explosão me sacudiu de um jeito que achei que fosse cair. Cobri as costas e a bunda de Carla com meu sêmen.
Carla soltou um suspiro satisfeito e desabou na cama, exausta. Peguei uma toalha no banheiro e limpei o rastro que deixei antes de me deitar ao seu lado.
Quase de imediato, ela adormeceu. Eu, por outro lado, permaneci acordado, ainda em êxtase, o coração disparado, a adrenalina pulsando em minhas veias. Não conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer.
Eu havia conseguido o que nenhum outro homem na empresa conseguiu. Estava no topo do mundo.
O problema é que, quando você chega no topo, o único lugar para onde pode ir… é para baixo.
Capítulo 5
Voltei daquela viagem completamente enfeitiçado por Carla. Entre a feira e as reuniões, aproveitamos cada segundo livre como se estivéssemos em uma lua de mel, sem pensar nas consequências, sem nos preocupar com o que viria depois.
Era um mundo à parte, onde nada além de nós dois existia.
A volta à realidade foi um choque. De repente, tudo parecia monótono e sem cor quando ela não estava por perto. Minha mente estava tomada, tornando quase impossível focar em qualquer outra coisa que não fosse ela.
Nossa relação era um segredo — tanto para o pessoal do trabalho quanto para o namorado dela. Qualquer brecha era uma oportunidade para nos encontrarmos. No horário de almoço, escapávamos para um hotel próximo ao escritório, onde passávamos algumas horas escondidos do resto do mundo.
Só que aquilo nunca era o suficiente para mim. Sempre sugeria que saíssemos para jantar depois do expediente, que fôssemos a algum lugar onde não precisássemos nos esconder.
Mas Carla segurava as rédeas da situação. Ela impunha um ritmo, controlava a velocidade das coisas, garantindo que não passássemos de um limite invisível.
O tempo passou e, novamente, teria a festa de final de ano da empresa, no mesmo sítio onde Renato tinha feito a suruba dele.
Aquele ano seria minha vez de aproveitar e ter uma experiência inesquecível.
Era um evento de dois dias, e a chácara tinha quartos suficientes para quem quisesse pernoitar e voltar só no dia seguinte. O clima era de celebração. Funcionários podiam levar seus cônjuges, filhos, até os cachorros.
Carla estava lá. O problema era que o namorado dela também foi.
Eu tentava manter a compostura, conversar com os colegas, fingir que aquilo não me incomodava, mas meus olhos sempre voltavam para ela.
Beijos, toques, abraços… gestos automáticos para qualquer casal, mas que para mim pareciam uma provocação. Eu era o cara com quem ela escapava no meio do expediente, mas, ali, diante de todos, ela ainda era dele.
E ele não desgrudava. Sempre tinha uma mão em Carla — na cintura, na coxa, no ombro — deixando claro para qualquer um que olhasse que ela era dele. O pior era que ele nem imaginava que precisava marcar território. Ele confiava nela. Ele acreditava que aquele relacionamento era sólido.
Respirei fundo e me aproximei dos dois, forçando um sorriso. Fingi que me juntava a uma conversa casual entre colegas de trabalho, mas, na verdade, era um interrogatório disfarçado. Eu precisava entender quem era o cara que, oficialmente, ocupava o lugar que eu queria.
O mais difícil, no entanto, era manter o foco na missão.
Carla estava ali, de biquíni preto — um modelo mínimo. A parte de baixo, presa por finas amarrações, acentuava ainda mais a curva da sua cintura. Meus olhos se perdiam, hipnotizados pelas gotas d’água deslizando pela sua pele, competindo entre si para ver qual chegaria primeiro ao fim do percurso.
Ela era demais. Mas eu precisava me concentrar.
— Então, cara, trabalha com o quê? — perguntei, fingindo interesse enquanto tomava um gole da minha cerveja.
O namorado de Carla sorriu, sem desconfiar de nada.
— Ainda sou estudante. Faço Medicina.
Ele explicou que estava no quinto ano, que os pais eram médicos e que já tinha um caminho todo planejado para seguir na carreira. Falava sobre o futuro com a confiança de quem nunca precisou lutar por nada. Enquanto ele discorria sobre estágios e especializações, a ficha caiu.
Carla não estava com ele por amor.
Ela estava com ele porque fazia sentido. Com uma carreira garantida e um sobrenome forte, o namorado representava estabilidade, futuro, status. Um médico bem-sucedido era um investimento a longo prazo.
Aquilo me irritou mais do que deveria. Fingi um sorriso educado e, num tom leve, sugeri:
— Pô, já que você tá de pé, enche os copos pra gente?
O namorado de Carla assentiu sem hesitar e caminhou até a mesa onde estavam as bebidas.
Assim que ele virou as costas, senti o olhar furioso de Carla cravado em mim, carregado de uma pergunta silenciosa, mas ensurdecedora: “O que diabos você acha que está fazendo?”
Ignorei.
Agarrei sua mão com firmeza e, sem dar tempo para protestos, a puxei para dentro da casa, em direção ao banheiro.
Assim que entramos, Carla libertou sua mão com força, me encarando com um olhar afiado.
— O que diabos você acha que tá fazendo? — sussurrou, a voz carregada de raiva.
Não respondi. Só a puxei pela cintura e a beijei.
Ela resistiu por um segundo, empurrando as mãos sem muita força no meu peito, como se quisesse se convencer de que aquilo era errado, mas cedeu. Olhou para a porta, ainda pensando nas consequências, mas se virou de costas e apoiou as mãos na tampa fechada da privada.
Foi tudo que precisei. Puxei o biquíni dela para o lado e, sem cerimônia, a penetrei. Carla engoliu um gemido, jogando seu corpo contra o meu, buscando mais. Segurei firme em sua cintura e comecei a me mover, rápido, bruto, ciente de que o tempo estava contra nós.
Eu estava ali, fodendo minha própria estagiária no banheiro de uma festa da empresa, enquanto o namorado dela estava do lado de fora, servindo nossas bebidas. Tudo era proibido, e isso só tornava a situação mais excitante.
O mais louco era que eu me tornava cúmplice daquela traição. Fodia-a com mais força e o mais rápido que eu conseguia, tentando garantir que o futuro médico nunca descobrisse o nosso segredinho.
— Chupa. — Minha voz saiu baixa, porém firme. Era uma ordem, não um pedido.
Carla se virou e ajoelhou diante de mim. Seus olhos azuis subiram devagar, me analisando, tentando decifrar a minha intenção.
Não precisei repetir. Ela passou a língua pelos lábios antes de envolver meu pau com a boca, sugando devagar no início, me provocando, me testando. Mas eu já estava no limite.
Segurei seus cabelos, guiando seus movimentos, sentindo a respiração dela acelerar enquanto aumentava o ritmo.
E então veio.
Gozei fundo na boca dela, os músculos se contraindo com tanta força que minhas pernas quase cederam.
Carla engoliu tudo, sem desviar o olhar, sem contestar.
Eu não tinha só transado com ela. Eu estava marcando território. Os beijinhos do médico teria o gosto da minha porra pelo resto do dia.
Nos limpamos rapidamente, sem trocar muitas palavras, o clima ainda carregado. Carla ajustou o biquíni, jogou o cabelo para o lado e se olhou no espelho, certificando-se de que não havia nenhum indício do que fizemos ali. Eu respirei fundo antes de destrancar a porta e sair primeiro, conferindo se o caminho estava livre.
Assim que nos aproximamos da piscina, o namorado de Carla ergueu o olhar e franziu a testa.
— Ué, onde vocês estavam? — perguntou, curioso, mas sem nenhum traço de desconfiança.
Carla hesitou por um segundo. Foi quase imperceptível, mas, já que eu era seu cúmplice, eu sabia a verdade. Então, ela ajeitou o biquíni e respondeu, com um sorriso sem graça:
— Ele só foi junto para me mostrar onde era o banheiro.
O namorado aceitou sem questionar. Ele deu um beijinho fofo na boca dela, e depois voltou a beber sua cerveja.
Eu, por outro lado, fiz o máximo que pude para segurar minha vontade de rir.
Capítulo 6
À medida que a tarde avançava e o álcool fazia efeito. O clima de descontração da festa ainda existia, mas, para mim, tudo estava filtrado por um único detalhe: o namorado de Carla.
Ele estava confortável demais ao lado dela.
Tocava sua cintura sempre que falava algo ao pé do ouvido, ria de qualquer coisa que ela dissesse, e ela, por sua vez, retribuía com sorrisos casuais.
Pequenos gestos que para qualquer outra pessoa passariam despercebidos, mas que para mim eram um incômodo constante.
Renato apareceu com um taco de sinuca na mão, batendo a ponta contra o feltro da mesa, chamando a atenção.
— Quem aí vai ter coragem de me enfrentar? — perguntou, com aquele tom provocador de sempre.
O namorado de Carla se animou na hora.
— Jogo desde pequeno. Meu pai tem uma mesa em casa — disse, girando o taco com destreza entre os dedos.
Ele olhou para Carla ao dizer isso, como se aquilo fosse algo que o tornasse superior. Ela riu de leve e assentiu, claramente se divertindo.
Isso foi o suficiente para que minha paciência acabasse.
Peguei um taco, fingindo despreocupação.
— Ah, então já tem experiência? Bom saber. Pode deixar, Renato, eu e o namoradinho da Carla vamos jogar.
Os dois me encararam, estranhando o tom agressivo da minha voz, mas devem ter atribuído tudo ao efeito da bebida.
O jogo começou.
Ele abriu com uma tacada forte e precisa, espalhando as bolas pela mesa. Depois, fez questão de se virar para Carla e dizer algo baixo, perto o suficiente para que ela sentisse sua respiração.
Meu sangue ferveu.
Minha vez. Me inclinei sobre a mesa e mirei com calma. Sabia que ele estava me observando, esperando para ver se eu erraria. Fiz questão de acertar minha tacada com precisão cirúrgica. A bola deslizou e caiu na caçapa.
— Nada mal, né? — comentei, casual, pegando minha cerveja.
O namorado de Carla manteve o sorriso, mas algo nele mudou.
Se antes ele parecia apenas animado para jogar, agora estava diferente. Ele começava a me olhar de outro jeito, mais atento, mais calculista. Não era só um jogo de sinuca. Era uma disputa silenciosa, uma medição de forças.
A cada rodada, o clima ficava mais tenso.
O namorado de Carla tentava impressioná-la com jogadas cada vez mais exageradas, se esticava sobre a mesa de um jeito teatral, fazia comentários sobre como "tinha aprendido com os melhores".
Ele estava se exibindo, mas, ao mesmo tempo, não deixava de me lançar olhares desconfiados, tentando me desconcentrar.
Até que, em um momento, depois de errar um lance simples, ele soltou um riso curto e pegou sua cerveja, balançando a cabeça.
— Sabe como é, né? Depois de algumas, a mira já começa a ficar ruim.
— É, imagino que seja difícil manter as coisas sólidas depois de um tempo. — retruquei, bebendo um gole e olhando para Carla.
Ela percebeu o que eu quis dizer. E ele também.
Vi sua expressão endurecer por um breve instante, mas ele disfarçou rápido. Só que, a partir dali, sua postura mudou. Não estava mais se exibindo. Agora, estava jogando sério contra mim.
A disputa foi apertada. Mas no fim, fui eu quem encaçapou a bola oito.
Soltei o taco sobre a mesa e, sem pensar, levantei os braços em triunfo, soltando um grito de comemoração. Abracei quem estava por perto, puxando Carla para junto de mim sem hesitação. Bem na frente do namorado, envolvi sua cintura, ergui-a ligeiramente do chão e a girei no ar, rindo como se tivesse acabado de conquistar um troféu.
O namorado de Carla apertou os lábios, desconfortável. Por um instante, achei que ele fosse pedir outra rodada ou me bater, mas ele fez pior.
— Amor, tô cansado. Vamos para cama? — disse, estendendo a mão para Carla.
Ela entrelaçou os dedos nos dele e saiu ao seu lado, lançando um sorriso rápido e indecifrável para mim antes de desaparecer para dentro da casa.
Esse era o trunfo dele. Não importava o resultado da sinuca, mesmo ganhando a partida, quem ia dormir com a princesa era o vilão.
Fiquei ali, parado ao lado da mesa de bilhar, girando a garrafa de cerveja entre os dedos. Meu corpo ainda estava quente, não pelo álcool, mas pela raiva e o ciúme.
Sem pensar muito, virei a garrafa e bebi tudo de uma vez, sentindo o líquido gelado escorrer direto para o estômago vazio. Peguei outra. E outra. Não conversava mais com ninguém, não me importava com o que acontecia ao redor. Só tinha uma coisa na minha mente.
Não ia aceitar aquela merda.
Ela não podia simplesmente sair de mãos dadas com ele e ir para a cama como se eu não existisse. Eu ia tirar Carla daquele quarto, nem que fosse à força.
O álcool afogou a última gota de juízo que me restava. Antes que percebesse, meus pés já me levavam para dentro da casa.
Parei diante da porta do quarto deles. A maçaneta fria na minha mão, a mente embaralhada entre impulsividade e dúvida.
E então, abri.
A porta rangeu levemente, mas eles não notaram. Carla estava deitada na cama, de costas para o namorado, o corpo coberto parcialmente pelo lençol. Ele estava atrás dela, sem camisa, colado ao seu corpo, o rosto próximo ao seu pescoço.
— Vem cá… — ele murmurou, passando a mão em sua cintura, tentando puxá-la para mais perto.
Carla se moveu minimamente, como se quisesse se esquivar de forma sutil.
— Tô cansada… — sussurrou.
Mas ele não recuou.
Ele deslizou os lábios pelo pescoço dela, beijando devagar, pressionando seu corpo contra o dela.
Do lado de fora, meus dedos se fecharam em punhos ao ver sua mão deslizar lentamente pela barriga de Carla, subindo até seu peito. Eu travei. Sem saber se eu continuava meu plano, ou voltava para meu quarto e dormia.
— Só um pouquinho… — ele insistiu, num tom quase manhoso.
Ela suspirou, como se estivesse cedendo mais por conveniência do que por desejo. Então, devagar, virou-se para encará-lo.
Foi aí que meu peito apertou.
Ela não o empurrou, não fez cara de nojo, não tentou escapar. Pelo contrário, quando ele colou a boca na dela, Carla retribuiu.
Ele subiu sobre ela, encaixando-se entre suas pernas. O quarto estava silencioso, exceto pelo som abafado dos beijos e dos lençóis se remexendo com os movimentos dele.
E eu assistia.
Sem entrar, sem interromper, sem gritar ou fazer escândalo. Só assistia, com os punhos cerrados e os dentes trincados, sentindo cada segundo daquela cena me corroer.
Os movimentos ficaram mais ritmados. Até que ele ergueu o tronco, apoiando-se nos braços enquanto olhava para Carla. Seus dedos deslizaram pelo pescoço dela, envolvendo sua garganta com força.
Meu corpo todo enrijeceu com a visão. Por um segundo, pensei em agir. Em invadir o quarto, arrancá-lo de cima dela e acabar com aquela cena.
Mas antes que pudesse mover um músculo, Carla soltou um gemido suave, um som arrastado que fez minha raiva se tornar confusão.
— Eu não resisto quando você faz isso… — ela murmurou.
Eu deveria ter desistido e parado de olhar naquele momento. Mas não consegui.
O namorado manteve a mão ali, pressionando enquanto continuava se movendo contra ela. Carla arqueou as costas, cravando os dedos nos lençóis, o rosto tomado por um prazer que eu nunca quis testemunhar.
Eles ficaram assim por alguns segundos, imersos um no outro, até que, de repente, Carla estremeceu e um novo gemido escapou de sua boca. Meu estômago revirou ao perceber o que tinha acabado de acontecer.
O namorado continuou por mais alguns instantes, ofegante, até que seu ritmo se tornou errático. Ele soltou um grunhido baixo, enterrando o rosto no pescoço dela, enquanto seu corpo tremia com o clímax.
Silêncio.
Ele caiu ao lado dela, exausto, puxando-a para uma conchinha.
Fechei a porta devagar e fui para o meu quarto. Deitei-me na cama, o corpo cansado, a mente um caos. Pela primeira vez, entendi o que realmente sentia por Carla. E isso tornava tudo ainda pior.
Eu não queria só foder Carla. Eu queria que ela fosse minha.
<Continua>